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A Universidade de Cabo Verde (Uni-CV) promoveu, no dia 29 de outubro de 2025, mais uma sessão do Ciclo de Conferências do Centro de Investigação em Desenvolvimento Local e Ordenamento do Território (CIDLOT), dedicada ao tema “Desafios para o Planeamento das Cidades Médias e Pequenas no Brasil”. A palestra esteve a cargo de Jânio Santos, doutor em Geografia e professor na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), Brasil, e contou com moderação de Sílvia Monteiro, coordenadora do Grupo Disciplinar de Geografia e Geologia da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT). O encontro decorreu no Edifício 14, Mediateca, sala António Correia e Silva, entre as 10h00 e as 11h30.

Na abertura, a presidente da FCT, Maria dos Anjos Lopes, sublinhou o papel do CIDLOT “como espaço de excelência académica e científica, dedicado à promoção do conhecimento, à reflexão crítica e à partilha de experiências”. Para a responsável, o Ciclo de Conferências “reflete o compromisso com a articulação entre a ciência, a sociedade e as políticas públicas”, salientando a pertinência do tema para realidades insulares como a cabo-verdiana, onde “as cidades, em constante crescimento e transformação, se configuram simultaneamente como espaços de complexidade e de oportunidade”.

A intervenção de Jânio Santos partiu de experiências de investigação em contextos brasileiros para discutir a atualidade do planeamento urbano. O orador defendeu que o planeamento deve aproximar-se da “cidade real”, evitando a dissociação entre documentos e práticas, e que a sua elaboração “é uma atividade multidisciplinar”, convocando geógrafos, geólogos, sociólogos, arquitetos e urbanistas. Reforçou ainda a necessidade de processos participativos e democráticos, capazes de traduzir o “projeto de cidade” desejado coletivamente, bem como a importância de construção de cenários a curto, médio e longo prazos.

Entre os tópicos abordados, Santos destacou a centralidade do diagnóstico: “não faço planeamento sem diagnóstico”, afirmou, defendendo a produção de bases de informação territorial robustas que sustentem políticas públicas. A partir de casos de estudo, problematizou fenómenos como ocupações urbanas, défice habitacional versus imóveis vagos e especulação imobiliária, apontando a coexistência de avanços legislativos com dificuldades de implementação efetiva. Referiu que políticas urbanas, quando não articuladas com a realidade local, podem reproduzir problemas em vez de os mitigar.

O conferencista tratou também de mobilidade urbana e de políticas ambientais, ilustrando experiências que privilegiam transporte público de qualidade e ordenamento ambiental, e sugeriu que a transferência mecânica de modelos entre cidades de escalas e perfis distintos tende a falhar. Defendeu, por isso, abordagens ajustadas a cidades não metropolitanas, nas quais as universidades desempenham um papel crítico na produção de dados originais e no envolvimento estudantil em diagnósticos que suportem planos e projetos.

Para Cabo Verde, a reflexão remete para a urgência de ação informada, participativa e responsável nas realidades urbanas locais, onde o crescimento acelerado exige coordenação e conhecimento sólido. Nas palavras de Maria dos Anjos Lopes, “partilhar saber é o primeiro passo para transformar o território”, frase que sintetiza a orientação do CIDLOT para uma investigação aplicada e para a valorização de práticas sustentáveis e inovadoras em planeamento urbano e territorial.

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