A Universidade de Cabo Verde atribuiu, no dia 21 de dezembro, o título de Doutor Honoris Causa a Carlos Nunes Fernandes dos Reis, primeiro Ministro da Educação em Cabo Verde, na especialidade Ciências Sociais, Humanas e Artes, em reconhecimento dos seus feitos no processo de institucionalização e desenvolvimento do Ensino Superior em Cabo Verde e pelo mérito e reconhecimento profissional com efeitos significativos para este setor que se está a valorizar cada vez mais.
A Universidade de Cabo Verde cumpre, mais uma vez, uma dívida com a história
Falando na ocasião, a Reitora da Uni-CV, Judite Medina do Nascimento, lembrou que tudo começou com uma visão, uma decisão ousada e um posicionamento político claro e firme que culminou com a oficialização do Curso de Formação de Professores para o Ensino Secundário em 1979 e o protagonista principal desta bela história foi o Dr. Carlos Reis.
“Volvidos 40 anos, e neste dia 21 de dezembro de 2019, a Universidade de Cabo Verde cumpre, mais uma vez, uma dívida com a história, reconhecendo com este ato do mais alto gabarito académico, o contributo que o Dr. Carlos Reis deu na conceção, no desenvolvimento e na efetivação do embrião do ensino superior em Cabo Verde, o qual constituiu o início de um processo que culminou em 2006 com a fundação da nossa jovem Universidade de Cabo Verde, instituição que é o orgulho de todos os Cabo-verdianos e Cabo-verdianas, da qual nós hoje temos a honra de fazer parte e pela qual continuamos labutar para honrar, para valorizar a sábia e visionária decisão tomada há 40 anos”, Judite Medina do Nascimento.
A Universidade de Cabo Verde recorda, mais uma vez, o passado e relembra as pessoas
“Com esta cerimónia de homenagem e atribuição do mais um alto título académico ao Dr. Carlos Reis, a Universidade de Cabo Verde recorda, mais uma vez, o passado e relembra as pessoas que em condições muito adversas contribuíram para construir as bases para o desenvolvimento dos três pilares da missão da universidade definindo a sua essência. Assim, não poderíamos deixar de relembrar quem teve a visão, quem concebeu, defendeu politicamente o projeto de ensino superior e decidiu a sua implementação. Com esta homenagem, a Universidade de Cabo Verde acaba por homenagear todos os Primeiros Ministros, todos os Ministros da Educação e todos os Ministros do Ensino Superior que sucederam e que continuaram a apostar no desenvolvimento do ensino superior em Cabo Verde. Não se pode homenagear a todos, mas simbolicamente escolhe-se pessoas que acabam por representar o número grande de personalidades de grande mérito, mas destacando exatamente aqueles que, em primeiro lugar, deram um passo ousado e, sobretudo, tomaram uma decisão ousada”.
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Carlos Reis, uma vida a semear conhecimento para colher desenvolvimento
Em louvor ao novo Doutor Honoris Causa, seu padrinho, Professor Manuel Monteiro da Veiga, saudou o distinto doutorando cuja sementeira do conhecimento para o desenvolvimento ofereceu à Universidade de Cabo Verde o feliz ensejo de o distinguir com mais alto grau honorífico atribuído na instituição, o de Doutor Honoris Causa. Igualmente, saudou e felicitou a Universidade de Cabo Verde, a Magnífica Reitora, a direção da Universidade de Cabo Verde, o coletivo de doutores professores, mas também de estudantes e trabalhadores pela abertura em colher no seu seio um semeador de conhecimento para o desenvolvimento com o perfil e a dimensão de Carlos Reis.
Manuel Veiga apontou um dos aspetos mais decisivos que habilita o homenageado a receber a distinção de Doutor Honoris Causa, que construiu-se na sua atitude práxis visionária, na qualidade de Ministro da Educação, Cultura, Juventude e Desportos promover e dinamizar o projeto de semear conhecimento para poder colher desenvolvimento.
O padrinho de Carlos Reis afirmou que o então Ministro da Educação, em consonância com a política de governo a que pertencia, decidiu apostar seriamente nos recursos humanos, a maior riqueza do país. Para tal, era fundamental ter instituições credíveis de educação, programas e equipamentos adequados, professores e formadores bem preparados, alunos e estudantes motivados e engajados. A educação ocupava uma das prioridades maiores de desenvolvimento, na medida em que através dela se poderia semear o conhecimento para depois colher o desenvolvimento.
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Das instituições de educação criadas no tempo do Ministro Carlos Reis, o padrinho Manuel Veiga, destacou o Curso de Formação de Professores do Ensino Secundário, que celebra o seu 40º aniversário em dezembro de 2019. Para a Universidade de Cabo Verde, esta é uma instituição legado na medida em que é nela que se encontra o ponto de partida para o grande projeto que deveria ser hoje a Universidade Pública de Cabo Verde. O Curso de Formação de Professores de Ensino Secundário em 1979 evoluiu para o Instituto Superior de Educação 1995. Mais tarde, em 2006, consagrou-se na Universidade de Cabo Verde. Todo esse processo foi possível graças à política visionária do Governo da Primeira República, estando Carlos Reis ao leme da instituição cabeceira. Note-se que a política visionária de se apostar nos recursos humanos trouxe dividendos positivos para a Universidade de Cabo Verde, para instituições de ensino primário, secundário e superior, para outras instituições académicas públicas e privadas, para todos os setores de desenvolvimento do país sendo, certo que a alma do desenvolvimento é a educação.
Os grandes desafios da educação na atualidade
Uma vez que o doutoramento honorário em Ciências Socais, Humanas e Artes foi investido pela Uni-CV, Carlos Reis agradeceu a Magnífica Reitora e o Conselho da Universidade de Cabo Verde pela decisão de o agraciar com o título de Doutor Honoris Causa. “Sinto-me muito honrado, sensibilizado com a vossa decisão que me responsabiliza e muito me compromete com o dever de continuar a merecer a generosidade da vossa decisão”.
Volvidos 40 anos da criação do Curso de Formação de Professores do Ensino Secundário, o primeiro Ministro da Educação em Cabo Verde, Carlos Reis, defendeu que a realidade educativa de hoje é completamente diferente, graças a todos os que se empenharam nesta grande mudança e apontou duas facetas dos grandes desafios da educação na atualidade: a primeira é urgência da invenção da nova escola inclusiva, inserida na comunidade com alma cabo-verdiana e, simultaneamente, aberta ao mundo global; a outra faceta dos novos desafios é a marca simbolizadora da realidade educativa de hoje, com a existência de 9 universidades, ou pelo menos, 9 entidades diferentes que ministram o ensino superior. Isto não deixa de nos acariciar o ego coletivo, mas também, não deixa de nos perturbar quando comparamos com a recomendação de organismos internacionais especializados, que referem à relação de uma universidade para cada um milhão de habitantes. Todos assumimos o lugar comum que reafirma a educação como a chave do desenvolvimento de qualquer país e a função docente como indispensável para o processo de procura da felicidade de qualquer sociedade.
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Carlos Reis aproveitou a oportunidade oferecida, na presença de uma plateia especializada, para tecer algumas considerações acerca da educação em geral e, de forma particular, a transdisciplinaridade enquanto quarta missão da universidade. O ensino, a aprendizagem e a formação como primeira missão, a investigação como segunda e a divulgação como terceira, ao realizar uma tentativa de abordagem transdisciplinar das missões da universidade num quadro mais vasto das suas múltiplas funções, torna-se contornável aceitar a importância dos estudos ligados à gramática dos interesses nacionais, à melhoria da comunicação intergeracional e ao melhor conhecimento do ambiente nacional e internacional.
Se quisermos compreender o sistema, teremos de estudar história
O novo Doutor Honoris Causa da Uni-CV destacou: “O papel da escola em geral e da universidade particularmente, continua a ser um tema central no processo de busca dos melhores caminhos e métodos para o desenvolvimento, a necessidade de maior ponderação, a tendência para dominar uma visão excessivamente instrumentalista da universidade e volta interpelar a importância de conciliadores como no passado terá sido o Cardeal Newman por exemplo, quando escreveu o seu livro “The idea of University” em 1852.
É indispensável a busca da qualidade da universidade; faz-nos confrontar a sustentabilidade das suas estruturas, a engenharia organizacional adotada e, por vezes, a sua banalização sabido que o financiamento geral do país, especialmente da educação depende largamente do sistema de cooperação internacional e tendo em conta que Cabo Verde tem sido beneficiado deste sistema que, como se sabe, não é, nem nunca foi um sistema de assistência completamente desinteressado de possíveis contrapartidas, devíamos poder debater mais as medidas que contribuíssem ou que pensamos que podem contribuir para agravar a dependência do país.
Se quisermos compreender o sistema teremos de estudar história, recuar um pouco no tempo, encontrar uma importante de ligação entre o fenómeno que alguns autores designam por círculo mágico do capitalismo euro imperial e o crédito financeiro”.
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Reforço da importância da universidade
No seu discurso de aceitação da investidura, Carlos Reis sublinhou que “a assunção, o alargamento, o aprofundamento da quarta missão da universidade podem contribuir para uma maior aproximação com a sociedade, para a melhoria da qualidade através de intercâmbios com outras universidades que dispõem de melhores condições de investigação e ensino, e para o financiamento das suas atividades para uma maior autonomia da instituição universitária. A contribuição que a universidade é chamada a dar, numa maior ligação entre a juventude do país e a juventude de outros espaços pertencentes aos desígnios estratégicos de Cabo Verde, como é o caso dos países atlânticos e da comunidade dos países de língua portuguesa, países com forte concentração de Cabo-verdianos e países africanos em geral, pode marcar o futuro de forma indelével”.
“É importante que a Universidade de Cabo Verde continue a ter condições para alimentar a diversidade e os pluralismos que dão vida já aí dizendo plurivocidade e poder adotar uma engenharia organizacional adequada, aquilo que o especialista já vem chamando a necessidade de racionalização ou gestão racional dos pluralismos e diversidades, incluindo o aproveitamento da importância se deve atribuir ao setor privado, a contribuição dos beneficiários e a tendência para desistir da procura da racionalidade, na procura da estruturação do sistema”.
Carlos Reis apelou “o reforço da importância da universidade já vem acontecendo, mas talvez deva ser mais debatida sobretudo na sua ligação com o sistema nacional de educação e com o desenvolvimento, pode contribuir para a consolidação da sua quarta missão entendida como a necessária e adequada transdisciplinaridade. Vai tornar mais intensa a ligação já existente com a sociedade, as atividades de investigação ligadas ao mar, dada maritimidade de Cabo Verde, o ambiente e as alterações climáticas enquanto temas de maior urgência para o planeta, mas também desde sempre urgente para as nossas ilhas. Tenho por mim, que a nação cabo-verdiana encara educação, e a universidade particularmente, de uma forma muito especial e é preciso fazer mais para não a defraudar”.
Em suas conclusões, afirmou que “num contexto ainda dominado pela relativa dificuldade em tornar visível e respeitável a economia que nos sustenta, ajudamos afastar dos caminhos das economias que matam, tal como referido pelo Papa Francisco. É como que a sociedade aguardasse que sua universidade ensinasse os caminhos da redução da pobreza, do desemprego e da mudança em geral, que precisa de acontecer envolvendo as mentalidades e as atitudes. Só uma universidade que assume o processo de procura da sua autonomia progressiva é que pode assumir a ligação entre a sua autonomia e a do estudante, bem como a do docente e, deste, com a autonomia do ensino e da formação que sua universidade possa disponibilizar a almejada qualidade que vem sendo questionada de várias formas, mas também através da grelha da qualidade dos seus docentes, passa também a depender de uma carreira motivadora e liderada em áreas especializadas por professores titulares e, porque não, pelos seus catedráticos a efetividade de funções”.
O evento contou com a presença de representantes do Governo de Cabo Verde, doutores honoris causa da Uni-CV, Pedro Pires e Maria Luísa Ferro Ribeiro, o antigo Primeiro-Ministro de Cabo Verde, José Maria Neves, antigos Ministros de Educação, Embaixadores, membros dos Conselhos Diretivos das Faculdades e Escolas da Universidade de Cabo Verde, diretores de centros de investigação, cátedras e núcleos de investigação, membros do Conselho da Universidade de Cabo Verde, docentes, funcionários, estudantes, representantes de instituições públicas e privadas de Cabo Verde, familiares e amigos do doutorando e profissionais da comunicação social.