Realizou-se ontem, 27 de outubro, no Auditório da Faculdade de Educação e Desporto (FaED) da Universidade de Cabo Verde, em Mindelo, a apresentação dos resultados do projeto internacional Future Migration as Present Fact (FUMI). O evento contou com a presença e intervenção de investigadores da Uni-CV, do coordenador do projeto, Professor Jørgen Carling, do Peace Research Institute Oslo (PRIO), e reuniu estudantes, docentes e membros da comunidade mindelense.
O projeto FUMI, financiado pelo European Research Council (ERC), analisou as vidas, sonhos e aspirações migratórias de jovens entre os 18 e os 39 anos em três cidades da África Ocidental: São Vicente (Cabo Verde), Tema (Gana) e Serekunda (Gâmbia). Em cada cidade, foram realizadas mil entrevistas presenciais, permitindo comparar realidades sociais e económicas distintas.
Principais resultados em São Vicente
Os dados revelam que 68% dos jovens sãovicentinos têm aspirações migratórias resolutas, ou seja, desejam e planeiam partir para viver ou trabalhar noutro país, caso tenham oportunidade. Apesar desse desejo, a grande maioria nunca iniciou processos concretos de emigração, refletindo uma distância entre o sonho e a possibilidade real de partir.
Quando questionados sobre o futuro, 77% afirmaram que aceitariam emigrar imediatamente se tivessem visto e bilhete disponíveis, sendo a Europa o destino elegido.
Em termos de bem-estar, São Vicente destaca-se positivamente: a média de satisfação com a vida é de 6,4 numa escala de 0 a 10, a mais alta entre as três cidades estudadas. A maioria dos jovens também considera que a sua situação financeira melhorou em relação à geração anterior, e cerca de 17% afirmam viver confortavelmente, valor superior ao registado no Gana e na Gâmbia. Estes resultados mostram que, mesmo num contexto de relativa estabilidade, os jovens mindelenses são, em certos aspectos, menos propensos a investir no seu próprio futuro. Tendem mais a viver um dia de cada vez do que a fazer planos para o amanhã.
“Quando lhes foi pedido que imaginassem receber uma quantia de dinheiro, a maioria dos jovens na Gâmbia e no Gana disserram que a utilizaria para criar ou ampliar um negócio. Em São Vicente, esta resposta foi muito menos comum. Pelo contrário, os jovens cabo-verdianos mostraram-se mais inclinados a gastar o montante em necessidades básicas”, afirma o Professor Jørgen Carling.
Para além da emigração, outros sonhos frequentes incluem ter um bom emprego e construir uma casa própria, onde cerca de um em cada cinco jovens mencionou este objetivo como aspiração principal. Um dado que revela que a maioria das pessoas sonha com aspetos básicos da vida, coisas que talvez devessem ser uma realidade e não um sonho.
Durante o evento, os investigadores sublinharam que o FUMI procura compreender a migração não apenas como deslocação física, mas como parte dos sonhos e das identidades juvenis. Em São Vicente, o desejo de emigrar surge tanto como expressão das ambições pessoais e profissionais quanto como resposta à perceção de oportunidades limitadas no contexto local. A análise dos dados mostra, no entanto, que essa vontade de partir não representa um afastamento das raízes, mas sim uma forma de projetar o futuro sem romper com o presente.