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Laudatio sublinha a Macaronésia do Conhecimento, a valorização da insularidade e o contributo fundador de Soliño para a cooperação Uni-CV–Universidade de La Laguna. Novo Doutor reforça apelo à ciência como motor do desenvolvimento e detalha resultados do Campus África.

Na sessão de outorga do Título de Doutor Honoris Causa a José Secundino Gómez Soliño, o Padrinho, Prof. António Leão Correia e Silva, qualificou o laureado como “irmão macaronésico”, “construtor de pontes” e “intelectual de travessia”, defendendo a Macaronésia do Conhecimento como geografia científica que une Açores, Madeira, Canárias e Cabo Verde. Na alocução, Soliño reiterou o papel da ciência e da educação no progresso das sociedades insulares e apresentou resultados concretos da cooperação com a Uni-CV.

A Macaronésia como projeto científico, cultural e institucional

No laudatio, Correia e Silva descreveu Soliño como académico que “fez do Atlântico casa e das ilhas um pensamento”, contrapondo visões redutoras da insularidade. Para o Padrinho, a Macaronésia defendida por Soliño é “una e plural, descolonizada e inclusiva”, que reconhece a diversidade histórica e linguística e recusa “nostalgias que amputam a história”.

Sublinhou ainda a defesa de modelos de política pública pensados a partir da insularidade, “as ilhas não são problemas, são possibilidades”, e convocou as universidades a liderarem uma rutura de paradigma que valorize escalas e lógicas próprias dos arquipélagos. Recordou, por fim, o papel de Soliño na tradução, promoção e estudo da literatura cabo-verdiana, realçando a trilogia atlântica de Jorge Barbosa como emblema de uma identidade arquipelágica.

Contributos fundadores para a Uni-CV e cooperação atlântica

O Padrinho elencou a participação de Soliño nas fases inaugurais da Uni-CV, em acordos, projetos e programas que consolidaram intercâmbios académicos, cooperação bibliográfica e redes de investigação. Destacou a sua atuação, ao lado de Basílio Valladares, na criação de iniciativas como Campus África e Escola de Verão da Macaronésia, “onde o conhecimento circula como os ventos e correntes que unem as ilhas”.

A intervenção do novo Doutor: ciência, diversificação e resultados

Ancorando o seu discurso em referências de economia do conhecimento (Stiglitz & Greenwald, Creating a Learning Society), José Secundino Gómez Soliño enfatizou que “o progresso científico e tecnológico não é fruto da riqueza das nações; é a riqueza que resulta dos avanços científicos e tecnológicos”, concluindo que governos e sociedade devem priorizar políticas de investigação e inovação “devidamente financiadas”.

Para o laureado, a Macaronésia do Conhecimento, comunidade cooperativa entre Açores, Madeira, Canárias e Cabo Verde, constitui um caminho pragmático de diversificação económica, qualificação de talento e afirmação geoestratégica no ecossistema global. Nesse enquadramento, propôs a criação de um Observatório para a Sociedade do Conhecimento na Macaronésia, com a missão de mapear indicadores, comparar desempenho e orientar decisões públicas e privadas com base em evidência.

Ao detalhar resultados tangíveis da cooperação Uni-CV–ULL, o novo Doutor destacou o Campus África:

  • 7 edições já realizadas;
  • >30 especialistas e personalidades cabo-verdianas ministraram aulas na ULL;
  • 306 universitários cabo-verdianos apoiados com bolsas para formação em Tenerife;
  • 4 teses de doutoramento já defendidas; 2 em defesa até ao final do ano; 8 em diferentes fases de elaboração — todas com foco em problemas de Cabo Verde.

Sem desvalorizar o peso do turismo na economia insular, Soliño advertiu para os limites de uma estratégia assente num único setor, defendendo a diversificação inteligente através da ciência aplicada, da transferência de conhecimento e de redes académicas e empresariais. “Devemos pensar com ambição e com os pés no chão, como recomendava Amílcar Cabral”, afirmou, convocando governos, universidades e sociedade civil a “avançar juntos” na construção de uma plataforma atlântica de conhecimento.

O orador agradeceu o apoio institucional e logístico que tem viabilizado a mobilidade académica e sublinhou o valor formativo da experiência internacional para consolidar um ecossistema científico robusto nas ilhas do Atlântico Médio. Reiterou ainda o apelo à efetivação da Fundação para a Ciência, Inovação e Tecnologia de Cabo Verde, como instrumento para captar financiamento e reforçar a competitividade dos investigadores.

Referindo-se diretamente à Uni-CV, concluiu com um compromisso: “Prometo, pela minha consciência e honra, defender e apoiar a Universidade de Cabo Verde sempre que necessário. Assim o asseguro, assim o quero.”

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