Numa conferência inaugural do XV Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais (CONLAB) e o do IV Congresso da Associação Internacional de Ciências Sociais e Humanas de Língua Portuguesa (CONAILPcsh), a historiadora e investigadora, Ângela Coutinho, enfatizou o papel crucial das ciências sociais na promoção das democracias. Realçou em particular o sucesso de Cabo Verde como exemplo de democracia em África.
A conferência, que teve lugar no Centro de Convenções, na passada terça-feira, 26 de setembro, centrou-se na importância das ciências sociais na construção e fortalecimento das democracias. A análise profunda de Coutinho explorou a transformação de sociedades outrora marcadas por sistemas coloniais e escravocratas em democracias prósperas. Neste panorama, sublinhou que Cabo Verde se destaca como um modelo de sucesso. O desenvolvimento económico cabo-verdiano, em grande parte potenciado pelo turismo, tem sido assinalável ao longo dos anos, destacando-se no contexto africano.
"Cerca de 540 mil habitantes, é o quinto menor país em África a sul do Sara, é apontado como o país mais rico da África Ocidental."
"Importa pensar que no em 2006, nesta ilha, Santiago, os agregados familiares mais desfavorecidos no meio rural, que constituíam um terço da população, obtinham entre 26% e 39% do seu consumo calórico a partir da produção própria."
Além disso, Coutinho focou na relevância das mulheres nos países lusófonos, quer no meio académico quer na investigação. Propôs uma reflexão sobre as manifestações da democracia contemporânea, questionando se os desafios atuais representam retrocessos ou são nuances inerentes à democracia liberal.
No seu discurso, abordou ainda as dificuldades laborais em Portugal, destacando as condições muitas vezes desafiantes para os docentes. Introduziu o conceito de "Afroutopia", enfatizando a importância de uma perspetiva africana sobre o progresso, contrapondo-se a modelos estritamente ocidentais. "O professor Felwine Sarr define a Afroutopia como uma utopia ativa que tem como tarefa localizar, evidenciar os vastos espaços do possível na realidade africana e fecundá-los."
"Até que ponto podemos afirmar que o mundo da investigação e da academia é, ou pode ser considerado democrático?"
Na sua extensa conferência, Ângela Coutinho desafiou aos presentes a refletir sobre a complexidade da democracia, o percurso das mulheres no âmbito académico e a necessidade de uma perspetiva africana sobre o desenvolvimento. A sua mensagem serve como convite à reflexão crítica e à reimaginação das perspetivas futuras.