Plenária de encerramento do dia reúne comunidade académica para um apelo à agência africana, à responsabilidade intelectual e a um humanismo enraizado no Ubuntu.

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Na última sessão do 1.º dia da ASAA2025, realizada na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV), o presidente da African Studies Association of Africa (ASAA), Professor Toussaint M. Kafarhire, apresentou a conferência “Os Estudos Africanos Ontem e Hoje: entre a tutela da humanidade e as externalidades ecológicas”. A intervenção convocou memória, crítica e ação, defendendo a centralidade da ética relacional e da responsabilidade académica no presente africano.

O orador dedicou a palestra à memória de Valentin Y. Mudimbe (falecido em abril de 2025) e de Ngũgĩ wa Thiong’o (maio de 2025), defendendo que a partida de “gigantes” convoca novas gerações a continuar o trabalho intelectual. A exposição organizou-se em torno de dois conceitos-chave:

  • Tutela da humanidade (Humanity Stewardship) - a ética do cuidado e da corresponsabilidade: “Eu sou o guardião do meu irmão e da minha irmã”, disse, notando que este princípio é, por vezes, esquecido na prática política.
  • Externalidades ecológicas (Ecological Externalities) - a captura de lucros e recursos por minorias, com transferência dos custos sociais e ambientais para maiorias vulneráveis.

Partindo destes eixos, Kafarhire interpelou a relevância da investigação académica, citando Cristina Duarte: “o conhecimento produzido deve efetivamente mudar vidas”. Criticou o hábito de permitir que outrem defina os problemas africanos e prescreva soluções, perpetuando uma “biblioteca colonial” (Mudimbe) que fixa África em narrativas de instabilidade, pobreza e corrupção e, desse modo, legitima novas formas de exploração sob a aparência de ajuda.

Em registo analítico, abordou o paradoxo das riquezas naturais e os ciclos de violência associados à disputa por minerais estratégicos, realçando cumplicidades internas e hipocrisias externas. Questionou, com eco à alegoria da caverna, se a realidade africana não estará distorcida por estruturas neoliberais globais que infantilizam sujeitos e instituições. A partir daí, avançou um apelo à ação: a academia africana deve assumir a responsabilidade de diagnosticar com precisão, formar pensamento crítico e orientar a ação pública.

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