No âmbito da comemoração do dia Internacional da Língua Materna, a Universidade de Cabo Verde foi o palco do II Ciclo de Conferências de Investigação Atual sobre a língua cabo-verdiana, que visa a promover a educação linguística em contextos de contato em Cabo Verde. Entre os dias 21 e 22 de fevereiro, investigadores do grupo disciplinar de Estudos Cabo-verdianos e Portugueses da Uni-CV defenderam a oficialização da língua cabo-verdiana.
A Professora Fátima Fernandes, em representação da Diretora da Cátedra Eugénio Tavares da Língua Portuguesa, defendeu a importância de se organizar eventos desta natureza, no sentido de estar a promover a educação linguística num contexto de contato neste nosso arquipélago.
Para além deste papel representativo, felicitou os organizadores e investigadores pelos seus trabalhos, resultado das suas investigações que fazem uma efetiva promoção da educação linguística em contexto de contato em Cabo Verde. “Estamos a falar de trabalhos de qualidade científica patrimonial que engrandecem com a sua atuação a própria dinâmica investigativa da Universidade de Cabo Verde e que fazem também a defesa do ensino da língua materna como uma interpelação presente a todos os académicos docentes e investigadores professores do ensino básico e secundário aqui presentes e que nos acompanham também em linha e finalmente os políticos, que tomam decisões e que nos apresentam orientações para que esta efetivação se concretize”, afirmou Fátima Fernandes, docente e investigadora da Uni-CV.
A Presidente da Faculdade de Ciências Sociais Humanas e Artes da Uni-CV, Elvira Reis, tomou a palavra para afirmar que estamos, neste momento, com 500 anos de atraso da oficialização do crioulo; daí, apontou, a necessidade de se analisar esse atraso para se poder agilizar este processo de oficialização da língua materna.
“Quanto maior for o aproveitamento dessa capacidade natural que a língua materna oferece, mais facilmente será o desenvolvimento da capacidade social, tendo, no entanto, reconhecido que, analisando a dificuldade dos cabo-verdianos em aprender línguas estrangeiras num país estrangeiro, nota-se a necessidade e responsabilidade do sector da educação em fomentar o processo de ensino de línguas”, avançou Elvira Reis.
A mesma frisa ainda “torna-se necessário um programa de formação de professores voltado para a sensibilização e um desenvolvimento de uma consciência valorizadora e defensora das línguas, independentemente das suas funções e dos seus estatutos”.
De entre outros, foram ainda discutidas “Lingua kabuverdianu na ensinu: un diretu umanu, linguistiku, pulítiku, ikonómiku” por Saidu Bangura; Karina Moreira apresentou “Idiofoni na língua Kabuverdianu: Marka simantiku y leksikal di subistratu afrikanu na Santiago ku Fogo” e Eliane Semedo apresentou “Orações adverbiais em cabo-verdiano (variedade de Santiago): um estudo baseado em corpus”.
Esta conferência teve como propósito dar aos participantes um conhecimento geral e funcional das investigações científicas sobre o cabo-verdiano e dos recursos disponíveis em linha para estudantes dessa língua.
Em representação da Comissão Organizadora do II Ciclo de Conferências, Dominika Swolkien, avaliou positivamente o evento que atingiu mais de 150 pessoas. No seu entender, o II Ciclo de Conferências deixa claro que o grupo disciplinar de Estudos Cabo-verdianos e Portugueses vai trazer mais evento deste género, mais voltados para a formação de professores. Swolkien disse que 90% da investigação sobre a língua cabo-verdiana é feita em inglês, tendo em conta que a maioria dos públicos na investigação da língua crioula, de linguística de contato, é sempre o público estrangeiro, porque há muitos mais centros de investigação fora do que dentro do país. Por isso, sublinhou o quão importante é avançar com o sistema de centros de investigação na Uni-CV. Esses centros serão de extrema importância, pois sem eles não é possível documentar as variantes das ilhas.
O evento terminou com um workshop sobre “Investigação científica atual e recursos disponíveis para o cabo-verdiano”.