Os resultados de um estudo de investigação para o Combate Efetivo contra a Propagação do Novo Coronavírus (COVID-19), desenvolvido pelo docente e investigador da Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade de Cabo Verde, Wilson Léger Monteiro, em colaboração com o investigador Maurício A. Léger Monteiro da Agência Reguladora Multissectorial de Economia (ARME), mostram os motivos que podem estar na origem do combate ineficiente contra a propagação do coronavírus.
Este pequeno artigo pretende trazer a luz a real natureza da evolução da pandemia do coronavírus em Cabo Verde através de uma análise inteligente dos dados que já dispomos. Esperemos, sinceramente, que este artigo sirva de motivação para que todas as pessoas refinem as medidas de prevenção/combate contra a propagação do novo Covid-19, indo, neste sentido, mais longe do que as medidas exigidas pelo Governo através da decretação do Estado de Emergência.
Analisando os 31 dias (21 de Março a 20 de Abril) da Vigência do Vírus COVID-19 em Cabo-Verde.
Autores: Wilson Madaleno Léger Monteiro (FTC-Uni-CV)
Maurício Antunes Léger Monteiro (ARME)
Já não constitui novidades para ninguém que o número de casos positivos de coronavírus em Cabo Verde está a aumentar e, que nos últimos dias do presente mês, a situação piorou de forma significativa.
Este pequeno artigo pretende trazer a luz a real natureza da evolução da pandemia do coronavírus em Cabo Verde através de uma análise inteligente dos dados que já dispomos. Esperemos, sinceramente, que este artigo sirva de motivação para que todas as pessoas refinem as medidas de prevenção/combate contra a propagação do novo Covid-19, indo, neste sentido, mais longe do que as medidas exigidas pelo Governo através da decretação do Estado de Emergência.
Informa-se ainda que, a explosão de casos positivos no Hotel Riu Karamboa, na Boavista, não foi contemplada neste estudo por não refletir a realidade de propagação do vírus no país já que aconteceu num confinamento específico. Sendo assim, o boomverificado na Boavista é encarado aqui como um outlier.
O gráfico que a seguir se apresenta mostra, em termos médios, a taxa de aparecimento de novos casos positivos de coronavírus em Cabo Verde a cada 10 dias, ao longo dos trinta dias de vigência do vírus no nosso país. Conforme mostra a figura em causa, a taxa média de aparecimento de novos casos positivos para os primeiros 10 dias de vigência do vírus foi de 5 novos casos por cada 10 dias (21 de Março a 30 de Março). Para o período que vai de 31 de Março a 9 de Abril, houve uma queda brusca na taxa média de surgimento de novos casos positivos, de 5 casos novos para 1 caso novo para os 10 dias que se seguiram aos primeiros. Este último resultado representa um ganho plausível no combate a doença. Infelizmente o panorama da evolução do aparecimento de casos novos positivos alterou-se significativamente, de tal maneira que para os últimos 10 dias de vigência do vírus no nosso país a taxa média de novos casos positivos subiu drasticamente para 16 casos novos. Ou seja, os últimos 10 dias foram bastante piores dos que os primeiros. Os resultados falam por si e mostram, de facto, que o combate contra a propagação do vírus não está a ser eficiente e, pelo contrário, parece que estamos a perder para este inimigo global.
Os resultados acima apresentados estão de acordo com os que são mostrados na figura seguinte. Esta última figura evidencia o número de “dias mortos”, subintende-se o número de dias sem aparecimento de novos casos positivos em Cabo Verde, para cada 10 dias dos 30 dias de vigência do vírus em Cabo Verde. Segundo esses resultados, dos 10 primeiros dias do vírus, 5 foram “dias mortos”. Dos outros 10 dias seguintes, 9 foram “dias mortos”, o que representa um ganho significativo no combate contra a propagação do novo coronavírus. Porém, nos últimos 10 dias, a situação inverteu-se. De facto, passamos a registar apenas 4 “dias mortos”, o que significa um grande fracasso no combate contra a propagação da doença.
Os motivos que podem estar na origem do combate ineficiente contra a propagação do coronavírus são as seguintes:
- O não aprimoramento das medidas de prevenção/combate contra a propagação do vírus face a novos factos que revelam o comportamento do vírus no ambiente
Constantemente têm sido publicados estudos relevantes que tornam evidente o comportamento do vírus a partir do momento em que são exalados do corpo. Neste contexto, de acordo com os resultados do estudo levado a cabo pelo Professor Wilson M.L.Monteiro e Maurício A.L Monteiro (Jornal a Nação de 15 de Abril, 2020) o ar é um meio de transporte do vírus COVID-19 e, sendo assim, o estudo propõe um conjunto de medidas para prevenir e impedir a propagação da doença. De entre essas medidas destaca a utilização obrigatória de máscaras e o afastamento lateral entre as pessoas ao invés de frontal, já que este e outros estudos mostram que o vírus pode alcançar distâncias substancialmente superiores a 2 m. Este estudo é reforçado por outro que foi realizado pelos investigadores da National Institutes of Health, Centers for Disease Control and Prevention, UCLA and Princeton University cujo resultados mostram que os vírus podem permanecer no ar por várias horas e que as pessoas podem contrair o vírus por ar ou depois de tocar em objectos contaminados, conforme foi anunciado pelo Dr. Neeltje Van Doremalen, cientista do NIH e investigador principal do estudo em causa.
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- A não obediência integral das exigências impostas pelo decreto do Estado de Emergência por parte de alguns cidadãos.
É um facto comprovado que em muitas localidades, principalmente nos bairros mais pobres, as pessoas desrespeitam constantemente as condições que lhes são impostas pelo decreto do Estado de emergência. Mesmo dentro de casa, e nos arredores da vizinhança, formam pequenos grupos de lazer, desrespeitando todas as informações que lhes são passadas a todo o momento através dos meios de comunicação social. Esta situação é extremamente difícil de ser controlada, mesmo com todo o manancial de forças de segurança em ação. Neste sentido, apelamos ao bom senso, à cultura de obediência e de responsabilidade das pessoas para que possamos vencer o mais rápido possível a doença.
- A não utilização obrigatória das máscaras de proteção individual
Desde o início da pandemia até a situação atual em que nos encontramos, vários são os estudos que apontam sobre a utilização de máscaras de proteção e o seu impacto na redução de propagação de doenças provocados pelo Covid19. Com os novos conhecimentos adquiridos até o momento sobre o comportamento do vírus no ar livre (Wilson e Maurício, Jornal A Nação de 15 de Abril de 2020) e que veio a ser reforçada dias depois numa publicação da Institutes of Health, Princeton University and UCLA(https://www.accuweather.com/en/health-wellness/coronavirus-can-live-in-air-for-3-hours-on-surfaces-for-2-3-days/702209), veio nos alertando de que de facto, há a possibilidade de transmissão via aérea uma vez que esse fica suspenso no ar por algumas horas, como por exemplo, quando transportados por pequenas gotículas de tamanhos inferiores a 5 μm de raio. Mediante esses factos, torna se mais de que evidente a utilização obrigatória das máscaras de proteção individual (comumente designado por semimáscaras). É relevante promover uma utilização mais alargada de máscaras pela comunidade e, seguindo a norma EN 149:2001+A1:2009 aplicável aos aparelhos de proteção respiratória filtrantes (APR), nomeadamente aos chamados “respiradores” ou “semimáscaras autofiltrantes” e, tendo em consideração a sua eficiência de filtração e a sua fuga máxima para o interior e devido ao seu baixo custo comparado com a mascara de proteção clinica torna – se viável a sua disponibilização para a utilização coletiva.
Em resumo, começamos bem o combate contra propagação do vírus. Mas os últimos 10 dias que vão de 10 de Abril a 19 de Abril foram catastróficos neste sentido. Assim, o Governo deve refinar constantemente as medidas de prevenção e de combate contra a propagação do vírus a medida que se despoletam estudos credíveis que tornam possível conhecer melhor o comportamento deste. Ao mesmo tempo deve reforçar as medidas de aconselhamento e de coação para aqueles que ainda nesta altura violam as exigências subjacentes ao decreto do Estado de Emergência. Nesta altura o uso das máscaras já deveria ter sido obrigatório, mesmo que isso possa significar para alguns, exageros na medida de prevenção/combate contra a propagação da doença.