
A Universidade de Cabo Verde realiza, na passada quinta-feira, 16 de outubro, no Auditório 101 (Edifício 8) do Campus do Palmarejo Grande, uma conversa aberta subordinada ao tema “Independência, Literatura, Inteligência Artificial”, com a participação de Princezito, Manuel Pereira da Silva, Nardi Sousa, Paulo Veríssimo, Ozias Filho e Ricardo Araújo Pereira, no âmbito do XIII Encontro de Escritores de Língua Portuguesa.
A sessão insere-se na agenda de extensão académica do XIII Encontro de Escritores de Língua Portuguesa, que decorreu na Cidade da Praia entre 16 e 18 de outubro, promovendo o diálogo entre escritores, comunidade académica e público em geral. Para além do momento na Uni-CV, o programa contou com sessões a 17 e 18 de outubro, no Hotel Barceló, com temáticas como “Literatura e Desenvolvimento” e “Cultura e Inteligência Artificial”.
No painel da quinta-feira, os autores convidados propõem uma reflexão plural sobre criação literária, língua, humor, identidades e tecnologias emergentes. Ricardo Araújo Pereira sublinhou a especificidade do humor como prática de linguagem e consciência crítica: “Eu escrevo textos humorísticos (…) cujo propósito é fazer com que as pessoas se riam. (…) O riso humorístico é o mais interessante de todos, porque ri do que é mau.” Para o autor, a língua comum que une diferentes geografias lusófonas é, também, campo fértil de partilha e invenção.
Da Galiza, Teresa Moure trouxe uma perspetiva sobre língua e pertença, valorizando a diversidade e a representação feminina na literatura: “É muito simbólico estar na Universidade de Cabo Verde com tanta presença feminina. Durante anos, muitas histórias não foram contadas; é das periferias que reclamamos o direito a ter voz e a contar.” A escritora evocou ainda o percurso de “Herba Moura”, romance que dialoga com saberes tradicionais e com a memória de exclusões no espaço académico.
O moçambicano Sérgio Raimundo partilhou excertos das suas crónicas, apontando a literatura como exercício de cidadania: “Escrevo para tapar os buracos da minha existência e os buracos disfarçados do meu país; enquanto existirem buracos, continuarei a ser escritor.” Na mesma linha, Avelino Pereira destacou a escrita como mediação entre experiência e comunidade leitora. João Branco e Silvino Évora abordaram itinerários de criação, migração e edição, refletindo sobre pertenças múltiplas e desafios de publicação no espaço lusófono.
O encontro propõe ainda um olhar sobre a Inteligência Artificial (IA) na cultura, tema que esteve em foco nas sessões de 17 e 18 de outubro. A discussão articulou-se com questões de independência, circulação de saberes e trabalho de linguagem, perspetivando oportunidades e riscos da IA para a autoria, a mediação crítica e a preservação de patrimónios linguísticos.
A iniciativa foi promovida pela UCCLA, pela Câmara Municipal da Praia, pela Universidade de Cabo Verde e pelo Camões – Centro de Língua Portuguesa na Cidade da Praia.