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A Universidade de Cabo Verde (Uni-CV) encerrou esta quinta-feira, 11 de setembro de 2025, no Campus do Mindelo, o 23º Encontro Anual da Associação de Crioulos de Base Lexical Portuguesa e Espanhola (ACBLPE), que ao longo de três dias reuniu mais de 40 investigadores de diferentes países para debater as línguas crioulas de base portuguesa e espanhola e as dinâmicas do contacto linguístico em África, nas Américas, na Ásia e na Europa.

O programa científico contou com cinco conferências plenárias que abordaram alguns dos temas mais prementes da investigação na área. O professor Kofi Yakpo, da Universidade de Hong Kong, apresentou uma análise comparativa sobre a institucionalização e a padronização das línguas crioulas, sublinhando a necessidade de políticas inclusivas que reconheçam a complexidade estrutural e social dessas línguas.

A professora Zaida Maria Correia Lopes Pereira, da Universidade da Guiné-Bissau, refletiu sobre a situação linguística atual no seu país, marcada pela coexistência entre português, crioulo e línguas nacionais. Já o linguista Denis Creissels, da Université Lumière Lyon 2, analisou o marcador do plural associativo no crioulo guineense e casamancês, relacionando-o com fenómenos semelhantes em línguas de substrato e adstrato da região.

O professor Jürgen Lang, da Universidade de Graz, abordou a interação entre a análise linguística e os processos de mudança na crioulização, com exemplos específicos da realidade cabo-verdiana. Por sua vez, a professora Amália Vera-Cruz de Melo Lopes, da Uni-CV, discutiu a variação interna da língua cabo-verdiana e os desafios colocados pela sua oficialização e normalização, trazendo para o centro do encontro um debate de grande relevância para Cabo Verde.

Paralelamente às conferências plenárias, dezenas de sessões temáticas dedicadas à documentação linguística, à fonologia, à gramática, ao ensino, à lexicologia, à literatura e à identidade permitiram a partilha de investigações vindas do Brasil, Guiné-Bissau, Portugal, Alemanha, Espanha, França, Senegal, Cabo Verde e de outros países.

A programação incluiu ainda um minicurso pré-conferência (8 de setembro), intitulado “Ecologia Linguística Cabo-verdiana”, dirigido a docentes do ensino secundário, que reforçou a ligação entre investigação científica e prática pedagógica.

A dimensão cultural também marcou a edição de 2025, com a apresentação pública da tradução cabo-verdiana do romance Os Dois Irmãos, de Germano Almeida, e a apresentação da versão em crioulo de São Nicolau de O Principezinho, de Antoine de Saint-Exupéry.

O programa pós-conferência reserva ainda uma visita académica e cultural à ilha de Santo Antão, agendada para o dia 12 de setembro, permitindo aos participantes um contacto direto com a diversidade linguística e cultural do arquipélago.

Promovido pela Uni-CV, ACBLPE e Cátedra Eugénio Tavares de Língua Portuguesa (CET-LP), com o apoio de instituições como o CNRS, LLACAN, INALCO e a Universidade de Augsburgo, o encontro mostra a relevância de Cabo Verde como palco de diálogo internacional sobre línguas e culturas.

Esta foi a segunda vez que a Uni-CV acolheu o Encontro Anual da ACBLPE, depois da edição realizada em 2016.

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