Professor Michael Kleine

No âmbito do crescente diálogo académico global, a Universidade de Cabo Verde (Uni-CV) tem vindo a fortalecer a sua cooperação internacional, particularmente com a Universidade de Bielefeld na Alemanha, através do projeto "Enactive Learning Environments in Mathematics" (EnaMath). Uma parceria que se destaca não apenas pelo seu foco no aprimoramento pedagógico, mas também pela sua visão de futuro na formação de docentes capacitados para os desafios contemporâneos.

Durante uma entrevista concedida à nossa equipa, o Professor Michael Kleine, uma figura central neste projeto e docente de didática matemática na Universidade de Bielefeld, partilhou insights valiosos sobre os objetivos, descobertas e futuras direções desta colaboração. Com mais de cinco décadas de experiência na pesquisa de métodos de ensino e ambientes de aprendizagem, o Instituto da Didática da Matemática (IDM) da UB encontra-se na vanguarda da educação matemática.

Professor Kleine, com a sua vasta experiência, sublinha a importância de ambientes de aprendizagem ativos, destacando a necessidade de os alunos se envolverem de forma criativa com a matemática, ultrapassando a mera aplicação de fórmulas para abraçar um pensamento crítico e inovador. Esta abordagem reflete-se nos laboratórios de matemática das universidades, essenciais na formação de futuros educadores e na implementação de métodos de aprendizagem ativa em seminários.

 

  1. Professor Michael Kleine, pode contar-nos um pouco sobre o seu papel na Universidade de Bielefeld e como se envolveu neste projeto "Ambientes de Aprendizagem Enactive em Matemática" (EnaMath)?

Sou professor de didática da matemática na Universidade de Bielefeld, situada no centro da Alemanha, num instituto dedicado à didática matemática há mais de 50 anos. Dedicamo-nos à investigação sobre o ensino e ambientes de aprendizagem e, por isso, temos inúmeros projetos na Europa e além dela. Procuramos aprender mais sobre como a matemática e os ambientes de aprendizagem são abordados em outros países e estabelecer colaborações com parceiros que partilhem o nosso entusiasmo pela matemática e o interesse em criar atividades de aprendizagem ativa para os alunos.

  1. Quais são as áreas de especialização na Universidade de Bielefeld que se alinham com os objetivos deste projeto?

 

Na Universidade de Bielefeld, o nosso instituto lidera diversos projetos na União Europeia, focados em programas de formação de professores e métodos de aprendizagem ativa. Trabalhamos diretamente com os alunos em experiências práticas e na construção de uma representação mental das suas atividades matemáticas. Para este projeto, o mais importante é fomentar um ambiente de aprendizagem ativo, incentivando os alunos a uma abordagem ativa da matemática, não se limitando a calcular fórmulas de forma mecânica, mas sim a serem criativos na sua resolução de problemas.

  1. Durante a visita, houve alguma descoberta particularmente interessante?

Sim, tanto para os colegas de Cabo Verde quanto para nós, foi muito revelador visitar as escolas e observar o ensino da matemática. Analisamos as condições de trabalho e de aprendizagem ativa para entender o que é mais adequado. O objetivo é encontrar o equilíbrio entre as nossas ideias e o que é apropriado para as escolas em Cabo Verde, e vice-versa, o que é aplicável na Alemanha. O desafio linguístico é evidente, por exemplo, ao implementar atividades no GeoGebra a comunicação foi um obstáculo. Em contraste, atividades com dados foram mais estruturadas e fáceis de acompanhar. Esta experiência ajuda-nos a entender o que é eficaz e o que os professores precisam para suportar estas atividades.

  1. Quais são as principais linhas de ação para a coordenação entre a UFAS, a EDM e ambas?

A EDM é o nosso instituto de didática da matemática. Ambas as universidades possuem laboratórios de matemática que são fundamentais para a formação de professores futuros e para a implementação de métodos de aprendizagem ativa em seminários. Estas instalações permitem desenvolver conteúdo adequado para a formação, sem começar do zero, tanto em Bielefeld como em Cabo Verde.

  1. Como é que estas linhas de ação vão impactar o ensino da matemática em Cabo Verde e, claro, na Alemanha?

Estas ações têm o potencial de mudar a forma como a matemática é ensinada, deslocando o foco do ensino tradicional, centrado no professor, para uma abordagem mais ativa, onde os alunos são encorajados a pensar, explorar e descobrir por si mesmos. Há muitas formas de abordar um problema matemático e queremos que os alunos encontrem a sua própria maneira, compreendendo que há várias soluções possíveis para um único problema.

  1. Quais são os benefícios desta abordagem para os alunos?

Este projeto é crucial para ensinar matemática de forma a ser útil na vida dos alunos. Estamos focados nos professores e alunos universitários, os futuros educadores, e queremos colaborar com eles na criação de ambientes de aprendizagem ativa. Embora não possamos fornecer soluções para todos os problemas, incentivamo-los a desenvolver as suas próprias estratégias de ensino. Assim, fornecemos as ferramentas iniciais, mas a independência na criação do ambiente de aprendizagem deve ser cultivada para além de qualquer seminário.

  1. E quais são os próximos passos para este projeto?

Após o regresso, teremos de apresentar um relatório ao Serviço Alemão de Intercâmbio Académico e planeamos discutir com os colegas a expansão do projeto para um programa de formação de professores mais amplo. Estamos a avaliar como integrar este programa nos seminários da nossa universidade e como utilizar os nossos laboratórios de matemática para apoiar e disseminar as ideias para escolas, professores e alunos.

  1. Há planos para expandir a cooperação colaborativa para outras áreas além da matemática?

Esperamos que sim. Embora a matemática seja o foco principal, estamos abertos a ter um impacto em áreas como atividades sociais e aprendizagem cognitiva. Queremos levar este projeto a outros países, como Moçambique, através de parcerias estabelecidas com Astrigilda Silveira. A ideia é sermos pontes para a colaboração internacional, disseminando os programas de formação de professores e partilhando as nossas ideias através de websites, beneficiando não só Cabo Verde e a Alemanha, mas um espectro mais amplo de países.

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