A Escola de Negócios e Governação da Universidade de Cabo Verde promoveu, a 5 de novembro de 2025, na Sala António Correia e Silva (Mediateca da Uni-CV), uma palestra sobre “Cabo Verde e as Instituições de Bretton Woods: desafios e oportunidades”, com André Roncaglia, Diretor Executivo do Brasil no Conselho de Administração do FMI, perante estudantes, docentes e convidados.

A sessão, organizada pela Escola de Negócios e Governação (ENG), teve abertura pelo seu Presidente, Edmir Ferreira, que enquadrou o encontro e agradeceu a colaboração do Fundo Monetário Internacional (FMI), sublinhando a oportunidade de diálogo direto entre a academia e uma das instituições centrais do sistema financeiro multilateral.
Apresentado pelo Presidente da ENG, André Roncaglia, Diretor Executivo no Conselho de Administração do FMI, iniciou a intervenção com uma síntese funcional do organismo: “O Fundo Monetário é uma cooperativa de crédito. Só empresta dinheiro aos seus membros e fá-lo quando um país tem dificuldade em honrar compromissos externos.” A partir desta definição, desenvolveu uma leitura histórica e institucional do acordo de Bretton Woods (1944) e da evolução da governação económica internacional, destacando o papel do FMI na resposta a desequilíbrios de balanço de pagamentos e na prevenção de crises sistémicas.
No plano comparado, Roncaglia distinguiu mandatos e horizontes de atuação das instituições irmãs: o FMI, vocacionado para choques de curto prazo e estabilização macroeconómica, e o Banco Mundial, orientado para infraestruturas e transformação estrutural. Sublinhou, por outro lado, a necessidade de ajustes “feitos à medida” (tailor-made) para economias com estruturas produtivas e cambiais distintas, advertindo que “não vamos tratar Cabo Verde da mesma maneira que tratamos Portugal”, em virtude das diferenças de escala, vulnerabilidades e regime cambial.
Abordando a governação interna do Fundo, o orador explicou a lógica de quotas e poder de voto, a representação de 191 membros por 25 cadeiras no Conselho e os constrangimentos associados a direitos de veto. Reforçou, a este propósito, que a sua cadeira trabalha para revisões das quotas e maior representatividade de países em desenvolvimento e pequenos Estados insulares, grupo do qual Cabo Verde faz parte.
No capítulo operativo, Roncaglia descreveu a missão do Artigo IV (monitorização anual), as linhas de crédito de diferentes prazos e o apoio ao desenvolvimento de capacidades (administração fiscal, qualidade da despesa, combate à lavagem de dinheiro). Explicou que as equipa(s) técnicas do Fundo reúnem ministérios, reguladores, setor privado, sindicatos e universidades, produzindo relatórios que são depois apreciados pelo Conselho de Administração. Para o público estudantil, deixou o incentivo à consulta dos relatórios publicados, como instrumento de aprendizagem aplicada.
A dimensão climática surgiu como variável macrocrítica para economias insulares e arquipelágicas. O orador assinalou que choques climáticos podem degradar o balanço de pagamentos via turismo, infraestruturas e custos energéticos, exigindo modelos de avaliação mais granulares. “A exposição às mudanças climáticas é uma realidade existencial para países de baixo rendimento”, sintetizou, defendendo uma monitorização que integre riscos ambientais e de resiliência.
Na interação final com a plateia, o orador retomou o fio histórico e geopolítico das instituições de Bretton Woods, reiterando que transparência, accountability e sensibilidade às especificidades nacionais são condições para melhorar a efetividade e a legitimidade das políticas do Fundo.
