O evento será estruturado em torno de eixos temáticos que possibilitem discutir aprofundadamente sobre o género a partir das perspetivas e especificidades africanas. Isto posto, entende-se que esses temas possam/devem reunir diferentes dimensões: teóricas, históricas, políticas e ativistas, culturais e artísticas, a partir de uma ótica interseccional e trans/interdisciplinar.
- Epistemologias sobre género e identidades - muitas sociedades africanas têm formas de organização de género que não se encaixam nas categorias binárias ocidentais. Até à colonização, havia várias comunidades que tinham conceções fluídas e situadas de identidade de género. Logo, pretendemos com este eixo que se discuta como as epistemologias africanas desafiam as normas de género eurocêntricas e como é que esses saberes podem ser recuperados e incorporados no debate global.
- Intersecções de género, classe, raça, geração e território – as práticas de género nas sociedades africanas são atravessadas por outros eixos de subjetivação tais como: classe, raça, idade/geração, contexto geográfico/território, sexualidades. Neste sentido, propomos por um lado, o diálogo acerca de interseções que moldam desigualdades e privilégios, influenciando o acesso a direitos, oportunidades e formas de resistência e, por outro, sobre estratégias para abordar essas interseccionalidades em políticas públicas, ativismos de género e práticas comunitárias.
- Feminismos africanos: teorias e práticas - os feminismos africanos não são homogéneos e refletem múltiplas experiências históricas, políticas e culturais. Desde as lutas de rainhas guerreiras até às ativistas contemporâneas, as mulheres africanas têm questionado o machismo estrutural, sistemas patriarcais, coloniais e capitalistas. Neste eixo propomos abordar as diferentes correntes do feminismo africano, desde o womanismo ao mulherismo, bem como as tensões entre feminismos africanos e feminismos ocidentais. Também discute o papel das mulheres na política, na economia e nas lutas por direitos reprodutivos e justiça social.
- Masculinidades e feminilidades - as construções de masculinidades e feminilidades na África são profundamente influenciadas por fatores históricos, culturais e sociais específicos, que interagem com questões de classe, raça, sexualidade, religião ou outro marcador da diferença. Neste eixo propomos examinar as diferentes facetas do ser homem e ser mulher, podendo repensá-las tanto à luz das dinâmicas coloniais, capitalistas e neoliberais quanto a partir do seu entrelaçamento em diversas dimensões da vida social, económica e política.
- Violências de género: Luta por reconhecimento de direitos e políticas públicas de prevenção e combate - propomos que sejam trazidos ao debate, as diferentes manifestações de violências (feminicídio, violências de género, violência doméstica, assédio sexual, mutilação genital feminina, casamentos precoces e/ou forçados, etc.) que atravessam as relações familiares, sociais e de trabalho em contextos africanos bem como, as suas raízes históricas e estruturais. Nesta linha, interessam-nos ainda, debruçar sobre as legislações para entender os deslocamentos teórico-conceptuais e, consequentemente, as (re) adaptações institucionais que se foram fazendo ao longo do tempo. As lacunas e os desafios na proteção e assistência das vítimas e na responsabilização de agressores; as redes de solidariedades familiares e comunitárias, ações de advocacy e de militância das ONG’s e instituições internacionais de promoção da igualdade de género, constituem igualmente nossa preocupação neste eixo de trabalho.
- LGBTQIA+: identidades, resistências e afirmações - não obstante as narrativas dominantes de que a homossexualidade e as identidades LGBTQIA+ não são africanas, há evidências históricas e antropológicas que indicam o contrário. Este eixo explora essas experiências no continente, abordando temas como colonialismo e criminalização da sexualidade, movimentos LGBTQIA+ africanos, religiosidade e aceitação social, bem como novas formas de resistência e afirmação de identidades.
- Género, migrações e diáspora - a mobilidade africana tem impactos significativos nas dinâmicas de género e vice-versa. Falamos na separação/reagrupamento de famílias devido à migração laboral, mas também na vulnerabilidade de mulheres e pessoas LGBTQIA+ em trajetórias migratórias. Exploramos como é que a diáspora africana influência a construção de identidades de género e a maneira como as políticas migratórias afetam grupos marginalizados.
- Cultura, artes e género: narrativas na literatura, cinema e performance - este eixo objetiva debater como a cultura e, em especial, as artes sempre desempenharam um papel fundamental na (re)interpretação das relações de género. Logo, a atenção recai na maneira como cineastas, escritores(as), músicos(as) e performers africanos(as) desafiam normas de género e criam representações de identidades femininas, masculinas e LGBTQIA+. Interessam as produções culturais que retratam a diversidade de vivências de género em África, assim como a censura e as tensões que essas conexões enfrentam.
- Género, religião e espiritualidade - as religiões e práticas espirituais africanas desempenham um papel fundamental na edificação das identidades de género. Queremos com este eixo debater como as religiões tradicionais africanas, o cristianismo, o islamismo, etc., moldam as relações de género, influenciam as normas sociais e, simultaneamente, servem como espaços de resistência e ressignificação das identidades, havendo lugar para o papel das mulheres líderes religiosas e das práticas espirituais LGBTQIA+ na África.
- Género e economia: trabalho, cuidados e desenvolvimento - o foco aqui é nas desigualdades de género e possibilidades de transformação social, no campo económico, desde o trabalho doméstico não remunerado até à precarização das mulheres nos setores informais e de serviços. Tópicos como empreendedorismo feminino, inclusão e justiça económica, economia/gestão do cuidado, acesso ao crédito, iniciativas de economia solidária e práticas comunitárias, criação de políticas públicas eco-inclusivas, e impactos do neoliberalismo na vida dos(as) africanos(as) são bem-vindos.
- Tecnologia, mídias digitais e ativismo de género - as mídias digitais têm operado como uma ferramenta poderosa para mobilizar debates acerca do género no continente africano, desde campanhas feministas no Twitter até influenciadores LGBTQIA+ que desafiam normas sociais, por exemplo, no Tik Tok ou Instagram. Destarte, buscamos analisar como é que a tecnologia tem sido usada para empoderar/agencializar, resistir e visibilizar ao mesmo tempo que tenta compreender desafios tais quais: cyberbullying, censura, cancelamento, controlo digital.
- Sexualidades, conjugalidades e parentalidades – as sociedades africanas têm mostrado que as suas relações afetivas e familiares conhecem uma ampla diversidade calcada em aspetos históricos, culturais e religiosos. Nesse sentido, o eixo ambiciona tratar da pluralidade de sexualidades, modelos de união e formas de parentalidade, desafiando a heteronormatividade e e patriarcado enquanto operadores de desigualdades. Transformações das dinâmicas conjugais, lutas e conquistas de famílias LGBTQIA+, direitos reprodutivos, impacto das legislações sobre casamento/divórcio/filiação são algumas matérias de interesse.