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A Escola de Ciências Agrárias e Ambientais (ECAA) foi criada a 23 de dezembro de 2011, oriunda do Centro de Formação Agrária do Instituto Nacional de Investigação e Desenvolvimento Agrário (INIDA) e integrada na Universidade de Cabo Verde. A ECAA está localizada em São Jorge dos Órgãos, no centro do perímetro florestal de São Jorge, um dos raros biomas sub-húmidos da ilha de Santiago, constituindo uma localização privilegiada, a cerca de 32 km da Cidade da Praia e próximo do Instituto Nacional de Investigação e Desenvolvimento Agrário. É uma Escola com a missão de desenvolver o ensino superior no domínio das ciências, tecnologias e engenharias agrárias e ambientais, onde articula os pilares do ensino, da investigação e da extensão universitária, para atingir o objetivo que é a capacitação neste setor agroambiental.

O Gabinete da Comunicação e Imagem da Uni-CV esteve em conversa com a Presidente da Escola de Ciências Agrárias e Ambientais, Isaurinda Baptista, para conhecer os principais problemas e desafios que a Escola tem pela frente, no quadro dos pilares tradicionais da Universidade de Cabo Verde, o Ensino, a Investigação e a Extensão Universitária. 

 ecaa_9845.jpgA formação no setor agrário está a atrair cada vez menos jovens

A atual Presidente da ECAA, Isaurinda Baptista, nomeada pela Reitora Judite Medina do Nascimento em 2018, em conversa com o Gabinete da Comunicação e Imagem da Uni-CV, afirmou que a ECAA está numa situação um pouco preocupante, porque a formação no domínio agrário está a atrair cada vez menos jovens, e o número de estudantes da ECAA têm reduzido ao longo dos anos. “Desde que estou aqui, ainda não conseguimos abrir cursos novos em termos de licenciatura, e temos dado continuidade a cursos que estavam ativos quando entrámos nesta Comissão Executiva. Portanto, é uma preocupação que temos para viabilizar a ECAA, em termos de cursos e de investigação”, apontou a Presidente, reconhecendo que há fraco interesse dos jovens para o setor agrário. Para a Isaurinda Baptista, formada em Agronomia, os jovens precisam conhecer melhor a importância do setor agrário: “é um setor estratégico, de extrema importância para o desenvolvimento do país e é necessário criar condições para que a ECAA possa realmente servir a missão para a qual foi criada, que é de contribuir para o desenvolvimento do setor através da capacitação e da promoção da ciência no domínio agroambiental, e para que possa atrair mais estudantes, mais projetos de investigação.”

 

Localização e a acessibilidade da Escola continuam a ser os principais problemas

A Presidente foi mais longe e apontou outras barreiras que têm condicionado o desenvolvimento da ECAA e que são desafios que precisam ser ultrapassados. “Temos o problema da acessibilidade da Escola: não há transporte direto da estrada principal para a ECAA, e isto é um constrangimento para os estudantes que, muitas vezes são obrigados a caminhar da estrada principal até a Escola. A  localização e acessibilidade da Escola de Ciências Agrárias e Ambientais continua a ser o principal problema que ainda não foi resolvido. Para minimizar o problema de transporte, a UniCV/ECAA assinou um protocolo com a Câmara Municipal dos Órgãos para apoiar os estudantes, dando acesso a um custo acessível no autocarro da Câmara, no percurso Praia para São Jorge e de São Jorge para Praia. Como uma solução, Isaurinda Baptista, aponta para uma rede de transporte que ligaria a ECAA aos outros campus universitários, de Cruz Grande em Assomada e mesmo da Praia. 

 

Aposta na capacitação para dar resposta aos desafios do setor agrário

A ECAA, assim como as outras Unidades Orgânicas da Universidade de Cabo Verde, vem apostando no ensino, nomeadamente nos programas de graduação e pós-graduação, com vista a dar resposta aos desafios de Cabo Verde e do mundo. Uma delas é o programa de pós-graduação em Gestão e Políticas Ambientais, que é constituído por um mestrado e um doutoramento que estão em curso neste momento. 

Em termos de licenciatura, a ECAA tem somente uma turma de 4º ano (último ano de licenciatura) em Agronomia Socio ambiental a funcionar neste momento. No próximo ano letivo, a Presidente espera conseguir abrir um curso de Engenharia do Ambiente e Recursos Naturais e um curso de Engenharia Florestal. “Esses dois cursos são realmente relevantes para o desenvolvimento do país”, avançou a Presidente, destacando a importância desses cursos para Cabo Verde que, enquanto país insular, tem muitas fragilidades em termos ambientais e de recursos naturais. “Portanto, este curso de licenciatura em Engenharia do Ambiente e Recursos Naturais irá capacitar profissionais que sejam capazes de dar resposta aos desafios tanto do setor ambiental como do setor agrário, proporcionando as ferramentas adequadas. O curso de Engenharia Florestal é de extrema importância também, porque neste momento Cabo Verde tem muito poucos engenheiros florestais; assim, o curso foi desenhado para dar resposta aos desafios do setor florestal do país em termos de capacitação”.

 

Contribuição da Escola para o desenvolvimento do setor agrário em Cabo Verde

A contribuição da ECAA está ligada tanto à capacitação através dos cursos, que formam quadros que irão trabalhar no setor agrário, como através da investigação. A ideia é que a ECAA contribua com ferramentas que sejam capazes de melhorar a resiliência do país para lidar com o problema da seca. “Sabemos que em Cabo Verde chove muito pouco, já temos provas que as mudanças climáticas são uma realidade, portanto temos de aprender e criar condições para viver sem chuva. Mas se a chuva vier, é sempre um acréscimo. A investigação agrária e a formação têm de ser capazes de criar estas condições, fornecer ferramentas para ajudar o país a enfrentar estes desafios, tanto da seca como das mudanças climáticas, por exemplo apoiando a adoção de técnicas e tecnologias adaptadas: rega gota a gota, utilização de variedades e de espécies de culturas adaptadas as condições do clima de Cabo Verde, as culturas protegidas, a hidroponia, o uso de energias renováveis na agricultura, entre outras…”

Para isso é necessário mostrar aos jovens a real importância dos cursos no domínio das ciências agrárias e torna-los mais atrativos. “Podemos mostrar aos jovens que estes cursos têm importância e que através deles, podemos contribuir para esta transformação da agricultura de que os sucessivos governos têm falado. Mas só podemos fazer essa transformação da agricultura se nós tivermos técnicos, pessoas capacitadas nesta área para contribuir com ferramentas para essa transformação”, afirmou Isaurinda Baptista, apontado a escassez de profissionais para o verdadeiro desenvolvimento do setor agrário em Cabo Verde.

 ecaa_9878.jpgO pilar da investigação na Escola de Ciências Agrárias e Ambientais

O pilar da investigação está a ser reestruturado no âmbito do recém-criado ecossistema de investigação. A investigação no setor agrário também faz parte do novo ecossistema através de dois centros de Investigação: 1. o CIDLOT (Centro de Investigação em Desenvolvimento Local e Ordenamento do Território), que já existe e que irá incluir um núcleo de investigação em desenvolvimento rural sustentável; e 2. Um Centro de Investigação de Montanha (o CIMO-CV), que é um Centro externo, em vias de instalação e operacionalização. 

“Neste momento temos poucos projetos de investigação, mas estamos a desenhar estratégias para este novo modelo no âmbito do CIDLOT, em que teremos um núcleo de investigação virado para as questões agrárias e ambientais”. O novo ecossistema de investigação aprovado pelo CONSU irá permitir desenvolver uma investigação mais virada para os desafios que existem no setor agrário e uma melhor organização, que poderá dar as respostas que estamos à procura.

Ainda no setor da investigação, a ECAA tem desenvolvido algumas parcerias com instituições tantas nacionais como estrangeiras, participando em consórcios de investigação, em concursos nacionais e internacionais. A esse propósito, a Presidente disse que recentemente a ECAA concluiu com bastante sucesso o projeto SALSA, que é um projeto ligado às pequenas explorações e negócios agrícolas, mais virada para a agricultura familiar. Este projeto trouxe conhecimentos importantes sobre a gestão de pequenos negócios agrícolas, as cadeias de valores e os meandros da agricultura familiar. No âmbito da agenda nacional de investigação, a ECAA desenvolveu um projeto ligado à produtividade da água e da fertilização para as culturas hortícolas. Este projeto já terminou e trouxe resultados importantes em termos da economia da água e da fertilização para culturas hortícolas. Por fim, Isaurinda Baptista frisou que a ECAA não desenvolve muitos projetos de investigação ainda, pois é uma Unidade Orgânica pequena, com um número bastante reduzido de docentes e investigadores e sem estruturas de investigação tais como laboratoriais e campos experimentais.  Os projetos de investigação são sempre desenvolvidos em colaboração com outras Unidades Orgânicas da Uni-CV, ou as vezes com investigadores de fora.

 

ECAA tem um desempenho impactante na investigação e na prestação de serviços à sociedade 

Em termos de investigação, de prestação de serviços à sociedade, a ECAA tem um desempenho mais impactante do que em termos de formação. “Esperamos que consigamos inverter a situação para trazer novos estudantes para a ECAA e também desenvolver mais a vertente de investigação”, sublinhou Isaurinda Baptista, apontando que é necessário ter ferramentas e condições que são, nomeadamente, laboratórios, campos experimentais, desenvolver parcerias, recursos humanos, tanto em termos de investigação como em termos de docência.

No domínio da extensão, importa destacar a relevância da prestação de serviços através de consultorias institucionais. Neste aspeto, a ECAA tem desenvolvido estudos importantes para o POSER (programa de oportunidades socioeconómicas no meio rural) e para a UNESCO.

No próximo ano, espera conseguir abrir os dois cursos já referidos, em Engenharia do Ambiente e Recursos Naturais e em Engenharia Florestal. Por outro lado, espera também reforçar a componente de investigação, implementando o núcleo de investigação previsto para a ECAA e instalando o CIMO. Reforçar as parcerias é também de extrema importância para que a ECAA seja uma escola de excelência. Dizer também que reforçar a Escola é de extrema importância para o desenvolvimento do setor agrário no país”.

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