Leonor Ribeiro defende monitorização sistemática, práticas baseadas na evidência e maior equidade entre escolas para potenciar o sucesso na leitura

O III Congresso Cabo-verdiano de Educação Inclusiva (III ConCEI) encerrou o primeiro dia de trabalhos com a conferência “Dificuldades de aprendizagem específicas: da monitorização às práticas centradas na investigação e medidas para potenciar o sucesso na aprendizagem”, proferida por Leonor Ribeiro, do Centro de Desenvolvimento da Partners in Neuroscience (Portugal).
A sessão, realizada ao final da tarde, da quinta-feira, 4 de dezembro, no Centro de Convenções, foi moderada por Euclides Furtado, que apresentou o percurso académico e profissional da convidada, destacando a sua formação em Educação Especial, o doutoramento em Estudos da Criança, na especialidade de Educação Especial, e a experiência consolidada na avaliação e intervenção em perturbações do desenvolvimento, em particular na leitura e escrita.
Na sua intervenção, Leonor Ribeiro começou por clarificar o conceito de dificuldades de aprendizagem específicas, sublinhando o carácter intrínseco e persistente destas condições. Centrando-se na dislexia, lembrou que se trata de “uma perturbação do neurodesenvolvimento, com base genética, que não desaparece”, ainda que a intervenção adequada possa reduzir o impacto das dificuldades. As consequências fazem-se sentir na fluência de leitura, na compreensão, no acesso ao currículo e, a médio prazo, no sucesso escolar e no bem-estar emocional.
A conferencista insistiu na necessidade de uma abordagem inclusiva que seja simultaneamente proativa e preventiva. Nesse quadro, apresentou o modelo de resposta multinível à intervenção, que articula triagem universal, monitorização contínua de progressos e medidas de apoio graduadas em função das necessidades dos alunos. “Não podemos esperar por um diagnóstico formal para agir. É preciso identificar cedo os alunos em risco e intervir antes que as dificuldades se intensifiquem”, enfatizou.
Um dos eixos centrais da comunicação foi a importância da monitorização sistemática da leitura através de provas breves, fiáveis e sensíveis, aplicadas a toda a turma. Leonor Ribeiro apresentou exemplos de instrumentos de fluência e compreensão leitora, bem como resultados de um estudo desenvolvido em escolas portuguesas do 1.º ciclo. Os dados evidenciam desempenhos médios abaixo das metas curriculares e diferenças significativas entre agrupamentos, o que levanta questões de equidade no acesso a oportunidades de aprendizagem.
Para a investigadora, estes resultados mostram que “as escolas precisam de dados objetivos, regulares e fáceis de interpretar para ajustar o ensino e fundamentar decisões sobre medidas de apoio”. A triagem universal, argumentou, permite identificar três grandes perfis de leitores em cada turma - alunos em risco, alunos na média e alunos acima da média - exigindo, por isso, respostas pedagógicas diferenciadas, tanto ao nível da sala de aula como em apoios mais intensivos.
Nas recomendações dirigidas às escolas e aos professores, Leonor Ribeiro destacou a necessidade de reforçar a formação contínua em práticas de ensino da leitura baseadas na evidência, bem como a utilização sistemática de dados de monitorização para planear, ajustar e avaliar a intervenção. Às universidades, atribuiu o papel de produzir investigação rigorosa, mas também de a tornar acessível e útil para os contextos educativos, através de materiais, parcerias e ações de formação.
Por fim, deixou um apelo aos decisores políticos para que criem condições que reduzam as desigualdades entre escolas, garantindo recursos, tempo e instrumentos para que a identificação precoce e a intervenção nas dificuldades de aprendizagem específicas se tornem prática corrente.
A conferência de Leonor Ribeiro fechou, assim, um dia de intensos debates no III ConCEI, reforçando a centralidade da leitura, da avaliação contínua e da justiça educativa na construção de uma escola verdadeiramente inclusiva.