Enquadrado no programa de comemoração do Dia Internacional da Língua Materna, a Faculdade de Educação e Desporto (FaED), da Universidade de Cabo Verde no Mindelo, recebeu, nesta quinta-feira, uma conversa aberta sobre a língua cabo-verdiana.
No início do evento foi projetado o documentário “Artigo 9º - A situação linguística em Cabo Verde”, de Ercie Chantre, onde várias personalidades competentes da área da linguística e convidados manifestam as suas posições referentes à oficialização da língua cabo-verdiana.
A conversa aberta contou com a participação de três oradores: Doutora Dora Pires, Doutor Carlos Delgado e Doutora Celeste Fortes, onde protagonizaram uma troca de experiências, ideias e opiniões relativamente ao tema em debate.
Em sua contribuição, o Doutor Carlos Delgado fez questão de salientar que “o que torna a língua cabo-verdiana interessante são as suas muitas variantes”, contudo considera que o maior problema da oficialização da mesma está na parte política e que é um trabalho que deve ser feito por etapas.
“Para termos, efetivamente, a oficialização da língua cabo-verdiana temos de dar dois passos importantes e indispensáveis. Primeiro tem de ser tomadas as decisões políticas para oficializar e segundo temos de deixar os aspetos técnicos para os línguístas, para os professores e outros profissionais competentes da área”, sublinhou.
“Estamos a perder oportunidades neste assunto, pois temos linguístas, estudiosos de várias nacionalidades que investigam sobre a língua cabo-verdiana dada a sua riqueza em variedades”, concluiu o Doutor Carlos Delgado.
A linguísta Dora Pires, por sua vez, afirmou que o passo da oficialização está completamente ligada à valorização da língua cabo-verdiana.
“Pedimos a oficialização da nossa língua materna, porque ela é que é a nossa identidade e temos de valorizá-la. Precisamos fazer uma planificação linguística e um trabalho conjunto entre o Ministério da Educação e o Ministério da Cultura, pois a língua cabo-verdiana é também um patrimómio cultural. Temos uma riqueza muito grande que nos unifica, tanto a nível cultural como linguisticamente”, destacou.
Já a antropóloga Celeste Fortes fez referência aos preconceitos linguísitcos visíveis em nossa sociedade.
“A língua é um instrumento de comunicação, mas também ela é um instrumento de poder. Muitas vezes o problema está na conotação de superioridade que conferimos ao português, como uma diferenciação social. Infelizmente, temos em Cabo Verde muitos preconceitos linguísticos, em relação à própria língua cabo-verdiana e também as suas variedades. Temos de igualar as nossas duas línguas e mantê-las”, sustentou a Doutora.
Durante esta semana, de 27 de fevereiro a 4 de março, foram desenvolvidas um conjunto de atividades no âmbito do Dia Internacional da Língua Materna, celebrado anualmente no dia 21 de fevereiro.
Destas atividades vale destacar o intercâmbio entre a Universidade de Cabo Verde e as escolas secundárias de São Vicente, que consiste na partilha de conhecimento e de experiências entre os estudantes dos cursos de Educação Básica e dos Estudos Cabo-verdianos e Portugueses da Uni-CV e os alunos do 10.º ano das escolas José Augusto Pinto, Ludgero Lima, Jorge Barbosa e Salesianos.