Projeto apresentado na Feira dos ODS integra o Responsible and Smart Solutions Lab, contribuindo para a segurança alimentar no país
A Universidade de Cabo Verde (Uni-CV) está a desenvolver um projeto que utiliza inteligência artificial para identificar pragas agrícolas, especificamente a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda), que tem causado danos significativos às culturas no país. Liderado pelo docente e investigador Olavo Teixeira, o projeto foi apresentado na Feira dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), demonstrando o contributo da universidade com a inovação e o desenvolvimento sustentável.
O projeto insere-se no Responsible and Smart Solutions Lab do Centro de Investigação de Tecnologia e Engenharias da Uni-CV. Este laboratório é resultado de um esforço conjunto entre vários programas, cujo financiamento permitiu equipar um espaço com condições para desenvolver investigação em Inteligência Artificial, Internet das Coisas, Telecomunicações e Eletrónica. Tal foi possível graças ao contributo dos programas ARISE (African Research Initiative for Scientific Excellence), RAIL (Responsible Artificial Intelligence Lab), AI4D Africa (Artificial Intelligence for Development Africa), AI4AFS (Artificial Intelligence for Agriculture and Food Systems) e o envolvimento da Uni-CV.
Em entrevista, Olavo Teixeira explicou que o sistema em desenvolvimento utiliza algoritmos de inteligência artificial, nomeadamente redes neurais convolucionais (CNNs), para reconhecer a lagarta-do-cartucho a partir de imagens capturadas pelos próprios agricultores. "Estamos a criar uma aplicação que permite aos agricultores, através de um telemóvel, identificar rapidamente se um inseto encontrado nas suas culturas é ou não a lagarta-do-cartucho, recebendo de imediato recomendações sobre como agir," afirmou o investigador.
O projeto baseia-se no conceito de ciência cidadã, envolvendo os agricultores na recolha de dados essenciais para o treino dos modelos de inteligência artificial. "Os agricultores conhecem bem a lagarta-do-cartucho e podem participar ativamente na recolha de imagens. Estas imagens são submetidas à nossa plataforma, onde especialistas em agricultura validam a sua qualidade. Depois, utilizamos essas imagens para treinar o modelo de inteligência artificial," explicou Olavo Teixeira.
Um dos principais desafios enfrentados pela equipa é a falta de bases de dados abrangentes e de qualidade sobre as pragas agrícolas em Cabo Verde. "Estamos a construir o nosso próprio conjunto de dados com a ajuda dos agricultores. A participação deles é fundamental para o sucesso do projeto," destacou o investigador.
O sistema utiliza tecnologias web, tornando-o amplamente acessível. "O nosso objetivo é que esta plataforma possa ser utilizada em qualquer ponto do país. Embora tenhamos começado a recolher dados no interior da ilha de Santiago, pretendemos expandir a iniciativa para outras regiões onde a lagarta-do-cartucho esteja presente," acrescentou.
A lagarta-do-cartucho é uma praga que afeta culturas do milho, causando perdas significativas para os agricultores e ameaçando a segurança alimentar em Cabo Verde. A implementação de técnicas de agricultura de precisão, combinadas com inteligência artificial, pode ajudar a monitorizar o crescimento das plantações, detetar pragas em potencial e alertar os agricultores em tempo útil.
O projeto, intitulado "O uso da inteligência artificial na mitigação de perdas de colheitas", conta com a colaboração dos investigadores Sónia Semedo e Anaxímeno Brito, e é patrocinado pelo Centro Internacional de Pesquisa para o Desenvolvimento (IDRC) e pela Agência Sueca de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (Sida) no âmbito do programa AI4D Africa scholarship.
"Acreditamos que esta solução tecnológica poderá beneficiar enormemente o setor agrícola em Cabo Verde, permitindo uma resposta rápida e eficaz ao aparecimento de pragas, reduzindo assim as perdas nas colheitas e contribuindo para a segurança alimentar do país," concluiu o investigador.