A eliminação sustentada do paludismo em Cabo Verde requer a colaboração de várias instituições. Neste contexto, a Universidade de Cabo Verde (Uni-CV) tem-se afirmado como uma parceira essencial no ensino superior do país na luta contra esta doença. As investigações e contributos da universidade sobre o paludismo no arquipélago são amplamente reconhecidos.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem sido uma parceira fundamental, fornecendo diretrizes e apoio técnico na luta contra o paludismo em Cabo Verde. Jude Bigoga, consultor da OMS, sublinha que parte da sua missão é "ajudar o país a cumprir os requisitos básicos para a certificação de eliminação do paludismo". Ele destaca ainda a importância de "construir capacidade em termos de recursos humanos, técnicos e financeiros". O papel da OMS vai além do apoio técnico, abrangendo também a formação de pessoal técnico em entomologia do Paludismo e controlo de vetores.
"Estamos agora a formar os formadores que identificámos em todo o país, em todas as ilhas", afirma Bigoga, sublinhando a necessidade de uma vigilância entomológica constante na era pós-eliminação.
No entanto, a OMS não está sozinha nesta missão. Adilson de Pina, responsável pelo Programa de Eliminação de Paludismo em Cabo Verde, menciona uma rede de parceiros envolvidos, incluindo o Fundo Global, o Instituto Nacional de Saúde Pública e a Uni-CV. "Neste contexto, a OMS tem sido a entidade que lidera todo o procedimento, toda a orientação e toda a preparação", ressalta.
Além das organizações internacionais, o envolvimento das instituições académicas é notável. Adilson de Pina aponta que a Uni-CV "desempenha um papel crucial para que se possa, de facto, ter dados e evidências de que o país deixou de ter casos locais de paludismo".
A Uni-CV tem desempenhado um papel multidimensional na luta contra o paludismo. Embora não esteja diretamente envolvida nas operações de controlo vetorial, a universidade contribui significativamente em várias outras frentes. A Uni-CV tem estado presente nos grupos consultivos e estratégicos que tomam decisões a nível nacional. Como formadora e membro ativo do comité consultivo nacional independente para a eliminação do paludismo, a universidade tem participado em workshops e formações onde as estratégias de combate à doença são discutidas. "Isso já é uma mais-valia", afirma Hailton Spencer, docente e investigador da Uni-CV.
A universidade tem sido um local para a realização de formações destinadas aos agentes de controlo vetorial e também a técnicos de laboratório. Além disso, estudantes da Uni-CV têm a oportunidade de participar nestas formações, tornando-se assim mais aptos para contribuir no combate ao paludismo nas suas futuras carreiras. A Uni-CV reconhece que um dos desafios é a falta de pessoal qualificado em entomologia médica no país, mas vê a educação e a formação como meios cruciais para colmatar essa lacuna.
Contribuição da Universidade de Cabo Verde: Academia e Investigação
A investigação desempenha um papel vital na luta contra o paludismo, conforme sublinhado por ambos os entrevistados. Jude Bigoga destaca que a investigação é a chave para novas descobertas e fornece dados cruciais para a tomada de decisões informadas. Sem dados robustos, a eficácia das intervenções e estratégias de controlo do paludismo fica comprometida.
A Universidade de Cabo Verde emerge como um parceiro estratégico no combate ao paludismo. Conforme explicado por Adilson de Pina, a universidade integra vários comités e núcleos de apoio ao programa, contribuindo tanto tecnicamente como em termos de investigação. A instituição também participa na elaboração de planos estratégicos e avaliações, fornecendo um suporte académico e científico indispensável. Além de contribuir para a investigação, as universidades têm o papel de formar a próxima geração de profissionais e investigadores na área da saúde pública. Jude Bigoga salienta a necessidade de formar pessoas em entomologia do paludismo e controlo de vectores, um aspeto em que as instituições académicas, como a Universidade de Cabo Verde, podem desempenhar um papel crucial.
Ambos os entrevistados enfatizam a necessidade de uma colaboração multissetorial, envolvendo não só o Ministério da Saúde, mas também universidades e instituições de investigação. Esta colaboração é vista como essencial para colmatar a lacuna existente entre os esforços de controlo do paludismo e as estratégias baseadas em dados e investigação. O papel das universidades e da investigação é multifacetado, abrangendo desde a geração de dados até à formação de recursos humanos e a influência na tomada de decisões políticas. A colaboração eficaz entre as universidades, instituições de investigação e o Ministério da Saúde é, portanto, fundamental para o sucesso sustentado do programa de eliminação do paludismo em Cabo Verde.
O objetivo de eliminar o paludismo em Cabo Verde envolve uma tapeçaria complexa de estratégias, desafios e oportunidades. A investigação e o papel das universidades, particularmente a Universidade de Cabo Verde, são centrais para informar e orientar políticas de saúde pública baseadas em evidências. A geração de dados científicos e académicos serve não apenas para Cabo Verde, mas também pode ser um recurso valioso para outros países empenhados na luta contra o paludismo.
À medida que Cabo Verde se aproxima do marco de 'zero caso', a colaboração intersectorial e a vigilância contínua são críticas. O objetivo final vai além das fronteiras nacionais, visando um continente africano livre do paludismo.