Durante a 6.ª Conferência Bienal da ASAA, conselheira da ONU afirma que o futuro do continente depende de africanos controlarem o próprio conhecimento e definirem suas decisões.

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Durante a manhã de hoje, dia 24, na sessão de abertura da 6.ª Conferência Bienal da African Studies Association of Africa (ASAA) no Centro de Convenções da Universidade de Cabo Verde, a conselheira especial da ONU para a África, Cristina Duarte, defendeu que o futuro e a soberania do continente dependem do conhecimento e de quem o detém. Logo após a abertura oficial, Duarte foi uma das keynote speakers do evento, destacando que a África precisa redefinir o poder no século XXI, deslocando-o das forças armadas ou da diplomacia para o domínio das ideias e do conhecimento.

Duarte alertou para o "paradoxo do conhecimento". Apesar de a África financiar mais de 75% do seu próprio desenvolvimento, valor 20 vezes maior que a Ajuda Oficial ao Desenvolvimento e 16 vezes superior ao Investimento Estrangeiro Direto, o continente ainda é retratado como "perpetuamente necessitado". Segundo ela, enquanto não controlar o conhecimento que define sua realidade, a África seguirá sempre as regras de outros.

Para quebrar as correntes que limitam a soberania africana, Duarte propôs quatro pilares estratégicos: Paz e Desenvolvimento, Desenvolvimento e Finanças, Finanças e Soberania e Conhecimento e Decisão, sendo este último o mais crucial. Sem um sistema em que o conhecimento africano informe decisões africanas, alertou, a dependência externa persistirá.

A conselheira também enfatizou a relevância dos sistemas de justiça costumeiros como património vivo, afirmando que a soberania envolve controlar não apenas territórios ou orçamentos, mas também o significado, ou seja, o poder de definir o que é justo e legal segundo perspectivas africanas.

No encerramento, Duarte apelou para um novo contrato social que una conhecimento e poder, pesquisa e governança. “O futuro da África não será importado. Será assinado por africanos que conhecem o terreno e têm a caneta na mão”, concluiu, desafiando líderes, académicos e cidadãos a assumirem a responsabilidade de desenhar o destino do continente pelo design de políticas, instituições e conhecimento.

A programação da ASAA prossegue até o dia 27, com comunicações de diversos conferencistas, painéis temáticos e debates que prometem enriquecer ainda mais a reflexão sobre o desenvolvimento e a soberania africana.

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