ECO-VILA é o mais recente projeto em prol a resiliência do sistema sócio-ecológico em Cabo Verde. 

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Em atuação desde de 1 de Abril de 2019, o projeto tem como objetivo desenvolver uma abordagem ecológica inovadora para promover o uso sustentável e a conservação dos recursos marinhos e costeiros na ilha de Santiago.  

Denominada “Raiz Azul”, o projeto ECO-VILA integra 4 comunidades costeiras da ilha de Santiago, a saber: Rincão, Porto Mosquito, São Francisco e Gouveia. A ideia é estabelecer uma eco-rede entre as quatro comunidades através do desenvolvimento de oportunidades de eco-turismo, de forma a melhorar a qualidade de vida nessas comunidades, diminuir o impacto negativo a nível ambiental, propagar o conhecimento e a valorização da biodiversidade e definir a primeira área marinha protegida (AMP) para a ilha de Santiago.

A escolha das comunidades adveiou do interesse de investigadores em definir a primeira área marinha protegida na ilha de Santiago, a Baía do Inferno ou Baía de Santa Clara, localizada entre as comunidades de Rincão e Porto Mosquito. Essas comunidades são consideradas guardiãs da área da Baía do Inferno. Foi feito uma campanha subaquática avaliando a biodiversidade marinha na área e para os pesquisadores, existe uma história em termos de paisagem e biodiversidade na região.

O projeto é uma iniciativa conjunta entre docentes do departamento das Ciências Biológicas e da Associação Cabo-verdiana de Ecoturismo. A professora e investigadora Mara Abu-Raya, coordenadora do projeto por parte da Uni-CV, explica que este surgiu numa conversa com a bióloga e Vice-Presidente da Associação EcoCV em 2018. 

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“Como já conhecíamos as comunidades onde estamos a trabalhar neste momento e já tínhamos identificado alguns problemas junto às famílias nessas comunidades, então surgiu essa convocatória para a conservação do ambiente e ao mesmo tempo também para trabalhar com comunidades costeiras. Então tivemos a oportunidade de submeter o projeto através do programa Darwin Initiative que é um fundo do governo do Reino Unido para ajudar países com rica biodiversidade, mas com poucos recursos financeiros.”

Com duração de 3 anos, o projeto encontra-se na primeira fase. Mara Abu-Raya explica que para este primeiro semestre fizeram vários estudos de base, levantando questões como: qual é a situação atual das comunidades e que tipo de lixo é produzido nessas comunidades? “Então fizemos todo o levantamento do tipo de resíduos que é produzido nessas comunidades, fizemos várias reuniões com as comunidades para envolver as pessoas no projeto porque com estes resultados conseguimos definir o perfil do eco-centro e implementar os sistemas de reciclagem do vidro e do plástico nas comunidades.” 

Segundo a investigadora, o projeto beneficia socioeconomicamente os grupos vulneráveis das comunidades (pescadores, vendedeiras de peixe, jovens desempregados e de baixa escolaridade, mães solteiras, chefes dos agregados familiares mais pobres). “Pelo menos duas principais comunidades vivem da pesca, ou seja, associamos tudo isso. O não tratamento do lixo e o impacto que isso tem depois na atividade económica”, reitera.

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Roberta Badovini, técnica de turismo da associação EcoCv, acrescenta que para além das reuniões com as comunidades, os integrantes da Raiz Azul ministram formações para capacitar a comunidade. 

“Começamos com o desenvolvimento do programa de ecocidadania, com a formação de guia da comunidade para capacitar membros da comunidade no acolhimento turístico, educar e sensibilizar a comunidade em relação à produção e tratamento do lixo de forma rentável. Tentamos passar todas as informações que possam ser relevantes a comunidade. Por exemplo a informação da biologia, ecologia e geologia dos recursos de cada comunidade”.

Acrescenta ainda que por formarem uma equipa multidisciplinar, conseguem alcançar os objetivos e chegar a várias pessoas de forma eficaz. “Fazemos uma espécie de troca de informações. Os pescadores estão muito interessados, por exemplo, em saber o nome verdadeiro de algumas espécies. Nós temos uma bióloga marinha, a Edita Magileviciute, que é a coordenadora do projeto por parte EcoCv que trabalha muito nessa parte e tem muita experiência em Cabo Verde”.

 

Roberta diz-nos ainda, que neste primeiro semestre estão desenvolvendo uma nova proposta como forma de alcançar os objetivos do projeto. A criação de ‘eco-redes’ é uma das formas de gerar recursos ao nível da biodiversidade e do eco-turismo. “Fizemos levantamento dos recursos naturais, culturais e sociais dessas 4 comunidades para desenvolver a primeira proposta de uma eco-rede”.

Uma das propostas apresentadas é a instalação da máquina de reciclagem de vidro. Para aquisição da máquina, o projeto teve apoio da Câmara Municipal local. Mara Abu-Raya esclarece que, com a trituração do vidro a comunidade terá oportunidade de recriar novos produtos que possibilitam a criação de um fundo comunitário que irá reverter a favor da comunidade. “Nós vimos que algumas comunidades como Rincão têm uma grande quantidade de vidro, então optamos por adquirir uma máquina para reciclagem do vidro que ficará no centro, na associação. Já começamos a conversar com o fornecedor sobre outra máquina de reciclagem de plástico e esta vai ficar em São Francisco”. 

Ainda na comunidade de Rincão, para além do treinamento para o descarte de garrafas de vidro, duas famílias iniciaram o teste de uso de caixas para separação do vidro do resto do lixo doméstico.

Roberta Badovini enfatiza que a maior proposta para as comunidades é a criação do ‘Ecocentro’. Este é o foco no projeto. “Ecocentro é um lugar na comunidade. Pode não ser um lugar físico, mas vai ser um ponto de referência para as pessoas das comunidades e para os visitantes, onde serão valorizadas a gestão e transformação do lixo, a biodiversidade local de cada comunidade e o seu diferencial", afirma.

Para Mara Abu-Raya, o maior benefício é proporcionar um centro de conhecimento não só para a comunidade, mas para os próprios investigadores. O acesso a relatórios científicos e dados de base vão ajudar posteriormente a extensão universitária e a sociedade. 

O projeto ECO-VILA será executado até 2022 por ambas as partes (Uni-CV e EcoCv) em ações conjuntas. O projeto é financiado por Darwin Initiative, que é um programa de financiamento do governo do Reino Unido que visa ajudar países com rica biodiversidade, mas com poucos recursos financeiros, a atingir seus objetivos sob a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB); a Convenção sobre Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Selvagens (CITES); e a Convenção sobre Conservação de Espécies Migratórias de Animais Silvestres (CMS).

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