A alta prevalência de alergias respiratórias em crianças cabo-verdianas revelou um desafio de saúde pública significativo, conforme destacam os resultados preliminares de um inquérito realizado em 2022. Esse inquérito foi o mote para o Projeto RESPIRA-CV, financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian e pela Fundação La Caixa. A investigadora principal, Isabel Inês Araújo, faz um balanço positivo da primeira fase do projeto, que visa estudar a colonização e microbioma das vias aéreas e sua relação com asma e outras atopias em crianças de Cabo Verde.–.
Terminada agora a primeira fase que se iniciou em janeiro de 2024, o projeto envolveu a preparação administrativa, aquisição de material, treinamento da equipe e mobilizou esforços consideráveis para a coleta de dados e amostras, envolvendo diversas escolas da Ilha de Santiago. "Tivemos que enfrentar desafios significativos, como a aquisição de materiais, que são dispendiosos e difíceis de obter em Cabo Verde", comenta a investigadora principal projeto RESPIRA-CV, Isabel Inês Araújo. Além disso, a equipe passou por diversos treinamentos, incluindo cursos sobre investigação clínica e coleta de dados.
Durante a primeira fase do trabalho de campo, foram selecionadas dez escolas, divididas igualmente entre áreas urbanas e rurais da Ilha de Santiago. "Visitamos as escolas, apresentamos os resultados do estudo de 2022 e introduzimos o novo projeto. Em seguida, obtivemos o consentimento dos pais e o assentimento das crianças para participarem no estudo", detalha Araújo.
A coleta de dados incluiu a aplicação de questionários clínicos e epidemiológicos pelos médicos, avaliação antropométrica das crianças e coleta de amostras de sangue e nasofaríngeas para análise. "Conseguimos envolver 204 crianças nesta primeira fase, o que demonstra um bom trabalho e a colaboração da comunidade", afirma a investigadora.
Isabel Inês Araújo expressa sua gratidão aos inúmeros profissionais e instituições que colaboraram no projeto. "Gostaríamos de agradecer aos médicos, enfermeiros, técnicos de laboratório e voluntários, e principalmente os gestores e professores das escolas que tornaram este trabalho possível. Também agradecemos aos apoios do Hospital Agostinho Neto, Delegacia de Saúde da Praia, Delegacia de Saúde de Santa Catarina, Centro de Saúde dos Picos, entre outros."
A parceria com instituições internacionais foi fundamental. "A Universidade de La Laguna e o Instituto de Higiene e Medicina Tropical têm sido parceiros essenciais, oferecendo apoio na aquisição de materiais, na coleta de dados e na coordenação científica", destaca Araújo. Uma equipa constituída por 3 pesquisadores, 1 estudante de doutoramento e a responsável pela área de Cooperação internacional do IHMT estiveram de 16 a 22 de junho a participar nos trabalhos de campo.
A segunda fase do projeto está programada para iniciar em setembro de 2024, abrangendo escolas que não foram contempladas na primeira fase. "Pretendemos estar presentes nas reuniões de início do ano letivo para informar os encarregados de educação sobre o estudo e iniciar a coleta de dados", adianta Araújo.
Quanto aos resultados, a investigadora explica que o projeto tem uma duração de três anos, com conclusão prevista para 2026. "Esperamos ter alguns resultados preliminares sistematizados até o final deste ano, mas os procedimentos completos serão realizados ao longo do projeto", conclui.