Michel

Michel Cabral é da Ilha de Santiago. Saiu de São Salvador do Mundo para estudar Cidade da Praia. Chegou à Universidade de Cabo Verde em 2011, quando foi aceite para o curso de Licenciatura em Filosofia. A partir do terceiro ano, escolheu o percurso Filosofia Política e Relações Internacionais.

Em 2015 foi um dos quatro (4) estudantes da Faculdade de Ciências Sociais, Humanas e Artes da Uni-CV escolhidos pela Comissão da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) como monitores de terreno no programa Alerta Precoce e Respostas Rápidas da CEDEAO – ECOWARN.

O Gabinete da Comunicação e Imagem da Uni-CV esteve em conversa com Michel Cabral para conhecer o seu percurso na Uni-CV, a sua contribuição na Unidade de Suporte à ZCLCA do Departamento de Comércio e Indústria Comissão da União Africana, em Adis Abeba, Etiópia entre outros pontos.

Uni-CV: Michel, podes te apresentar brevemente para os nossos leitores?

Michel Cabral: Sou Michel Cabral, tenho 27 anos e sou de Picos São Salvador do Mundo. Sou um grande amante da África, da Academia, da Filosofia Política, e das Relações Internacionais particularmente.

Sou uma pessoa muito humilde, gosto de aproveitar a juventude mas, dentro dos limites da responsabilidade e sem perder foco. Não tenho receio de enfrentar barreiras, por mais duras que elas possam ser. O meu percurso de vida (pessoal e académico-profissional) até aqui, resume-se a: boas oportunidades, mas com imensas barreiras. Tive que as ultrapassar e prossigo.

Uni-CV: Qual foi o teu percurso na Uni-CV?

MC: O meu percurso na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV) começou em 2011 quando fui aceite para o curso de Licenciatura em Filosofia. A partir do terceiro ano, escolhi o percurso Filosofia Política e Relações Internacionais, quehoje já não é uma variante, mas sim dá nome ao próprio curso. Para mim, é um dos cursos mais interessantes na Uni-CV, tal como a própria Filosofia em si já o era.

Fiz o curso com muita competência, de tal modo que em 2015 fui um dos quatro (4) estudantes da Faculdade de Ciências Sociais, Humanas e Artes da Uni-CV escolhidos pela Comissão da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) como monitores de terreno no programa Alerta Precoce e Respostas Rápidas da CEDEAO – ECOWARN.

Em 2017, igualmente não podia deixar de aproveitar a oportunidade de fazer parte do novíssimo programa de Mestrado em Integração Regional Africana na Escola de Negócios e Governação da Uni-CV. É um programa lecionado por professores reconhecidos a nível internacional (de África, Europa e América) e outros excelentes professores cabo-verdianos, que hoje começa a colocar no mercado nacional profissionais altamente preparados em matéria da integração de Cabo Verde na sub-região e no continente.

Uni-CV: Trabalhaste na Comissão da União Africana, Departamento de Comércio e Indústria, Unidade de Suporte à ZCLCA, em Adis Abeba, Etiópia. Podes explicar como tiveste esta oportunidade e qual era a tua missão exatamente?

MC: A minha presença na Comissão da União Africana divide-se em três momentos:

  • Em 2018, fui um (1) dos 100 jovens Africanos selecionados (em um concurso com mais de 4.200 candidatos) para participar do Programa de Voluntariado Juvenil da União Africana. Na sequência, fui chamado para uma formação em Acra, Gana sobre Liderança, e alguns meses depois fui recrutado pela Comissão da UA, Departamento de Comércio e Indústria, Unidade de Suporte à ZCLCA.
  • Depois de voltar para Cabo Verde em meados de 2019, fui duas vezes recrutado (primeiro, pelo GIZ (Agência da Cooperação Internacional Alemã, (ndr), escritório de Dakar; e segundo pela CUA, Departamento e Comercio e Indústria), para serviços de Consultoria na CUA, Unidade de Suporte à ZCLCA.
  • De 2020 até agora, estando em Cabo Verde, sou periodicamente solicitado a viajar e participar/ajudar nas reuniões de negociações em torno da implementação da Zona de Comercio Livre Continental Africana (ZCLCA), sendo ultimamente de modo virtual devido às restrições decorrentes da Covid-19.

Durante esses três momentos, basicamente desempenhei as seguintes tarefas (não se limitando às mesmas):

  • Auxílio aos vários especialistas seniores nas suas tarefas específicas;
  • Elaboração de notas verbais e convites para fins diversos;
  • Pesquisas, compilações e relatórios sobre o status de textos legais e outras documentações necessárias para as negociações da Fase I e II da ZCLCA;
  • Co-organização das logísticas para as reuniões;
  • Produção de relatórios e documentações relacionadas às negociações da ZCLCA;
  • Participação nas reuniões relacionadas aos protocolos anexos ao Acordo ZCLCA;
  • Tradução de vários documentos de/para português;
  • Auxílio na realização de pesquisas, compilação e elaboração de relatórios sobre os mesmos;
  • Acompanhamento dos resultados/decisões das reuniões;
  • Outras tarefas diárias no escritório;

Uni-CV: Neste quadro, concedeste também uma entrevista ao Inforpress Cabo Verde. Qual era o propósito desta entrevista?

MC: A Zona de Comércio Livre Continental Africana (o maior Acordo comercial criado desde a criação da OMC em 1995, e que constitui o sonho antigo dos pan-africanos maximalistas liderados por N´Krumah) começou o seu funcionamento a 1 de janeiro de 2021. Nesse sentido, enquanto especialista na matéria uma vez que auxiliei, e tenho auxiliado de forma direta, todas as negociações em torno da mesma, mas também por ser investigador nessa matéria (no âmbito do Mestrado em Integração Regional Africana), fui convidado para uma entrevista com a Inforpress Cabo Verde, uma outra com a Rádio Morabeza e mais tarde para o Programa “Em Debate” na TCV.

O propósito foi esclarecer os aspetos gerais sobre a implementação do Acordo que estabelece a ZCLCA, o início do seu funcionamento, e sobretudo enquadrar Cabo Verde nesse mercado, particularmente os possíveis ganhos, ou não, de Cabo Verde a partir da sua integração no mercado ZCLCA, na sub-região e no continente em geral.

Qual o teu papel hoje em dia como consultor internacional e jovem líder africano?

Eu tenho pautado sobretudo pelo incentivo e pela partilha de experiências, na tentativa de diminuir o pessimismo infundamentado que infelizmente vejo na nossa juventude. Da mesma forma, tenho tentado incentivar alguns colegas e amigos a procurar oportunidades dentro do continente e não apenas no país ou na Europa.

Que experiência tens através das tuas várias viagens em África, a nível da tua visão para o continente e para Cabo Verde?

Até agora, tive oportunidade de conhecer várias cidades e vários países africanos, nomeadamente Tanzânia, Zâmbia, Egito, Senegal, ESwatini, Gana, Quénia, Madagáscar, África do Sul, Namíbia, Zimbabwe, Etiópia, Costa do Marfim, Togo, Marrocos, entre outros.

Tenho um misto de experiências, que nesse momento fazem-me acreditar cada vez mais no potencial do continente, e acreditar seriamente no sonho de “uma África integrada, próspera e pacífica, impulsionada pelos seus próprios cidadãos e representando uma força dinâmica na arena global.” (Agenda 2063 da UA).

Apesar de vários desafios, sobretudo a nível da segurança, pude constatar que África está a desenvolver-se a um bom ritmo, e que aquilo que a comunicação social passa com maior frequência, na verdade não se sobrepõe às coisas positivas que têm acontecido. A comunicação social, sobretudo em Cabo Verde, tem o dever de fazer muito melhor do que aquilo que tem feito, isto é, não se constituir refém de notícias meramente negativas e por vezes falaciosas, mas também dar a conhecer as coisas positivas que acontecem diariamente no continente.

Por outro lado, destacaria o facto de ainda ser muito difícil viajar dentro do continente, isso sobretudo tendo a sub-região oeste-africana como ponto de partida. Eu por exemplo já tive que fazer escalas em Dubai (EAU), Doha (Qatar) ou Lisboa (Portugal) para viajar de um país para outro (ambos em África).   

Uni-CV: Voltando para a Uni-CV, o que a instituição te trouxe no teu percurso e para o teu futuro?

MC: Para mim, existem dois aspetos indispensáveis no percurso profissional de um jovem: carácter e formação académica, de modo que a Uni-CV é uma instituição inseparável da minha vida profissional. Pelos cursos (Filosofia, Política e Relações Internacionais e Integração Regional Africana), pelos docentes/investigadores que me marcaram e continuam a marcar pela positiva, mas também pelo contributo que tem dado na formação da nossa juventude.

A Uni-CV é ela também responsável por todas as oportunidades que tive até agora, e outras que certamente terei.

Uni-CV: Na tua opinião, qual deveria ser o papel da Uni-CV nas dinâmicas e desafios de Cabo Verde e de África em geral?

MC:  O papel da Uni-CV, como é obvio, deve passar sempre pela promoção do conhecimento, nesse caso, conhecimentos inequívocos sobre o continente africano. Isso deve passar tanto pelos cursos, pelos programas, pela promoção de intercâmbios, entre outros aspetos.

As universidades não podem seguir a moda aparentemente interminável em Cabo Verde de criticar tudo o que tem de ver com África. A descolonização do sistema de ensino em geral faz-se cada vez mais necessária.

Para isso, os projetos de investigação, os trabalhos de fim de curso, os intercâmbios académicos, e não só, devem também ser mais direcionadas ao continente. O Mestrado em Integração Regional Africana pode ser o ponto de viragem. É imperativo conhecer o continente do qual somos parte, e a Uni-CV tem um papel sine qua non nesse sentido.

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