No dia 21 de novembro, a Universidade de Cabo Verde (Uni-CV) celebrou o seu 18.º aniversário, marcando uma trajetória de crescimento e desenvolvimento desde a sua fundação em 2006. Em entrevista, o Magnífico Reitor José Arlindo Barreto faz um balanço positivo do percurso da instituição, destacando as conquistas alcançadas, os desafios enfrentados e as perspetivas para o futuro.
Balanço dos 18 anos
Segundo José Arlindo Barreto, a universidade tem motivos para celebrar. "Penso que é um balanço francamente positivo. Desde a sua criação, a universidade deu grandes passos. Com a sua instalação em 2006, ampliámos consideravelmente a diversificação dos cursos, investimos na formação dos docentes e capacitámos fortemente o pessoal técnico-administrativo. A universidade tem uma pujança grande a nível internacional, o que considero ser um marco importante para a Uni-CV," afirmou.
Desafios superados e atuais
O reitor reconhece que os desafios têm sido muitos, mas a instituição tem sabido enfrentá-los. "Enfrentámos a pandemia da COVID-19, mas a universidade soube tomar as melhores decisões durante esse período, avançando de forma sólida e saindo fortalecida. No que diz respeito a constrangimentos financeiros, temos superado esses desafios através de parcerias. Temos apostado intensamente na investigação, que exige recursos para laboratórios e acervos bibliográficos. Com projetos e colaborações importantes, temos encontrado soluções. O governo tem colaborado, o que tem sido essencial para ultrapassarmos essas dificuldades," explicou.
Aposta nas novas tecnologias
Questionado sobre a atenção dada às novas tecnologias, Barreto destacou várias iniciativas: "A Uni-CV tem desenvolvido formações, workshops e projetos muito relevantes no campo das novas tecnologias. Destaco iniciativas como o uso da Internet das Coisas na agricultura, onde agricultores são capacitados para utilizarem a tecnologia no seu dia a dia, como no sistema de rega gota-a-gota. Atualmente, estamos desenvolvendo um projeto de ciência cidadã que apoia os agricultores na identificação de pragas, permitindo respostas rápidas a esses problemas. Além disso, temos investido em plataformas tecnológicas para melhorar os serviços académicos, como a gestão de filas e a organização de informações, acelerando e modernizando a prestação de serviços."
Internacionalização e parcerias
A internacionalização tem sido uma prioridade para a Uni-CV. "Estamos muito envolvidos em redes internacionais. Em junho de 2024, a Universidade de Cabo Verde, por meio do seu reitor, assumiu a presidência da Associação das Universidades de Língua Portuguesa. Também ocupamos a vice-presidência do Conselho de Reitores da África Ocidental e participamos em várias outras organizações. Isso aumentou consideravelmente a nossa presença e projeção internacional," destacou o reitor.
Qualificação do corpo docente e investigação
Sobre a qualificação dos docentes, Barreto afirmou: "Nem todos os nossos docentes são doutores, mas somos a universidade com o maior número de doutores no país. O rácio entre doutores e estudantes é muito elevado. Para os docentes que possuem apenas o mestrado, estão no programa de capacitação para o doutoramento. Também temos apostado na formação do pessoal técnico-administrativo, pois o avanço da universidade depende igualmente da qualificação desse grupo."
Em relação à investigação, mencionou projetos importantes: "Destaco o projeto kafuka, que utiliza painéis fotovoltaicos para fornecer iluminação em comunidades rurais sem acesso à eletricidade. Outro exemplo são os concursos de robótica, onde temos representado Cabo Verde a nível africano, conquistando o quarto lugar por dois anos consecutivos."
Ligação com o setor privado e procura dos cursos
A ligação com o setor privado é vista como essencial: "Estamos a trabalhar para fortalecer as parcerias público-privadas e envolver as empresas no desenvolvimento académico. Algumas já compreenderam que a colaboração com a academia traz vantagens para as suas operações. Continuamos a dialogar para ampliar esse envolvimento."
Quanto às áreas mais procuradas pelos estudantes, mencionou: "As áreas mais procuradas incluem enfermagem, direito, tecnologias multimédia, informática, ciência de dados e medicina. Temos também uma grande procura por pós-graduações, como em segurança informática. Atualmente, mantemos cerca de 4.200 estudantes matriculados, um número consistente com os anos anteriores."
Desafios futuros e sustentabilidade
O reitor reconhece que há desafios a superar: "Os maiores desafios incluem a sustentabilidade financeira e a necessidade de mais investimentos em investigação. A pandemia foi outro grande obstáculo, mas conseguimos superá-la com decisões acertadas. Continuamos a trabalhar em inovação pedagógica, adaptando-nos às novidades tecnológicas, como a inteligência artificial."
Sobre as propinas, esclareceu: "As propinas não são suficientes. Sabemos que muitas famílias enfrentam dificuldades para pagá-las dentro do prazo. Recebemos contribuições do Estado e de projetos financiados, que representam cerca de 40% do nosso orçamento. O apoio governamental tem sido crucial para mantermos as operações."
Visão para o futuro
Para o futuro, José Arlindo Barreto é claro: "Estamos a apostar fortemente na investigação. Nosso objetivo é transformar a Uni-CV de uma universidade centrada no ensino para uma instituição focada em investigação e produção de conhecimento com impacto real na sociedade. Continuamos a colaborar com comunidades locais, promovendo projetos que beneficiem os cidadãos. Também trabalhamos em iniciativas voltadas para a redução da violência em Cabo Verde, além de reflexões sobre temas globais que têm impacto no país."