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A consolidação da parceria em Medicina entre a Universidade de Cabo Verde (Uni-CV) e a Universidade de Coimbra, bem como os desafios da fixação de médicos cabo-verdianos no país, estiveram no centro de uma sessão de trabalho realizada ontem, 9 de dezembro, na sala de reuniões do edifício 2, no Campus do Palmarejo Grande.

Desde 2015, um protocolo firmado entre os governos de Cabo Verde e de Portugal permite que estudantes cabo-verdianos completem o curso de Medicina na Universidade de Coimbra, realizando o ciclo básico na Uni-CV e o ciclo clínico em Portugal. Quase 80 jovens médicos já se diplomaram ao abrigo deste acordo. Porém, uma parte significativa destes profissionais não está hoje a exercer no Serviço Nacional de Saúde cabo-verdiano.

Cabo Verde está a perder mão-de-obra altamente qualificada

O diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, Carlos Robalo Cordeiro, Professor Catedrático de Pneumologia, que acompanha a parceria há vários anos, destacou que a qualidade e o desempenho dos estudantes cabo-verdianos têm sido amplamente reconhecidos em Coimbra. Referiu a assiduidade às aulas teóricas, o compromisso com a aprendizagem e os bons resultados obtidos ao longo do curso.

“Os estudantes de Cabo Verde estão, muitas vezes, na média ou acima da média dos restantes estudantes”, afirmou, sublinhando que o problema não está na formação, mas na falta de respostas estruturadas quando regressam ao país. De acordo com os dados partilhados, menos de metade dos diplomados se encontra atualmente a trabalhar em Cabo Verde. Muitos avançam para o processo de reconhecimento do diploma em Portugal, realizam a prova nacional de acesso à especialidade e acabam integrados em programas de formação médica especializada no estrangeiro.

“Cabo Verde está a perder mão-de-obra altamente qualificada”, alertou o diretor, lembrando que o protocolo foi concebido para reforçar os cuidados de saúde cabo-verdianos e não para responder às carências de outros sistemas. A situação é particularmente sensível em especialidades críticas. “Há um cirurgião vascular em todo o país, dois reumatologistas, três nefrologistas”, enumerou, defendendo que os Ministérios da Saúde de ambos os países negociem um modelo de “vagas protocoladas” para especialização: os médicos cabo-verdianos fariam parte da formação em Portugal, com condições remuneratórias definidas entre os dois Estados, regressando depois ao sistema nacional de saúde com uma área de especialidade bem identificada.

O reitor da Uni-CV confirmou que tem recebido, ao longo dos últimos anos, delegações de estudantes de Medicina com as mesmas preocupações, e afirmou já ter levado o dossiê a dois ministros da Saúde sucessivos. “Os estudantes fazem um esforço enorme; no final, querem um emprego digno e um percurso previsível. Quando isso falha, cria-se frustração e embaraço para todos”, admitiu, lembrando que muitos destes jovens querem, acima de tudo, poder trabalhar e viver em Cabo Verde, junto das suas famílias.

Novas áreas de cooperação

Por sua vez, a presidente da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Uni-CV, Maria dos Anjos, adiantou que a universidade está a preparar a abertura, já no próximo ano letivo, de um doutoramento em Ciências da Saúde, com forte componente de saúde pública, em articulação com a Faculdade de Medicina de Coimbra. Em cima da mesa estão também novas ofertas formativas nas áreas de saúde mental, medicina dentária e Cidades Inteligentes e Sustentáveis, com vista a oferecer novas saídas em áreas estratégicas para o país já no próximo ano letivo.

Por seu lado, o pró-reitor da Uni-CV para Tecnologias, Inovação e Dados, Celestino Barros, recuperou a proposta de criação de um Museu de Informática na Universidade de Cabo Verde, sublinhando a importância de preservar a memória da evolução tecnológica no país e de disponibilizar um espaço de educação científica para estudantes, escolas e comunidade em geral. A Universidade de Coimbra, que possui experiência neste domínio, mostrou-se disponível para apoiar o desenho conceptual e museológico do futuro espaço.

Compromisso com mais e melhores cuidados de saúde

No final da sessão dedicada à área da saúde, ambas as instituições reafirmaram o compromisso de trabalhar de forma articulada para que a formação conjunta em Medicina se traduza em mais e melhores cuidados de saúde para a população cabo-verdiana. A Reitoria da Uni-CV reiterou que continuará a sensibilizar as entidades nacionais para a necessidade de valorizar os médicos formados ao abrigo deste protocolo, criando condições para a sua integração e progressão profissional.

A Universidade de Coimbra, por seu turno, manifestou disponibilidade para apoiar a definição de soluções técnicas, académicas e regulatórias que contribuam para a fixação de quadros, para o reforço da capacidade científica e clínica em Cabo Verde e para a expansão qualificada da pós-graduação em Ciências da Saúde.

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