Conferência assinalou o Dia Internacional do Cinema e cruzou cinema com comunicação, literatura e filosofia.

A Universidade de Cabo Verde realizou, em 6 de novembro de 2025, a 1.ª Conferência “A Influência do Cinema na Sociedade: do Clássico ao Moderno”, iniciativa da Faculdade de Ciência e Tecnologias, no Auditório 101, com transmissão online. O encontro promoveu reflexão sobre o papel do cinema na vida social, articulando abordagens de comunicação social, literatura e filosofia.
A sessão foi organizada para “estimular a reflexão sobre o papel e o impacto do cinema na sociedade, do período clássico às expressões contemporâneas”, valorizando o contributo artístico, cultural e social da sétima arte. Estruturada em três intervenções temáticas, a conferência propôs leituras complementares do fenómeno cinematográfico a partir de campos disciplinares distintos.
O docente e investigador Álvaro Ruiz (Escola de Negócios e Governação) abriu o painel com uma abordagem sobre cinema e comunicação social, sublinhando o modo como o cinema cria ícones e arquétipos, inscreve frases e linguagens no uso comum, influencia moda e música, e reflete - ou catalisa - mudanças sociais. Na sua intervenção, recordou exemplos de franquias e personagens que atravessaram gerações, bem como relações entre valores da cultura popular e tensões históricas (como as do período da Guerra Fria). Realçou ainda a globalização cultural e a criação de subculturas associadas a géneros específicos (do western ao filme noir), chamando a atenção para a fusão entre cinema, música e artes visuais.
Seguiu-se a Professora Edileuza Penha (Brasil), que tratou a interface cinema-literatura, explorando as transposições narrativas e os diálogos intertextuais que aproximam e distinguem os dois campos. A intervenção problematizou os efeitos de adaptação na estrutura narrativa, na construção de personagens e nas formas de receção, discutindo como certos motivos literários ganham nova expressão audiovisual sem perder densidade semântica.
Na terceira comunicação, o Professor Élter Carlos centrou-se na relação entre filosofia e cinema e na leitura do filme “Como Estrelas na Terra”, que retrata uma criança com dislexia pouco compreendida até encontrar apoio num professor de artes. Para o docente, “o cinema constitui uma ferramenta importante para a compreensão de conceitos filosóficos e para a formação intelectual e afetiva dos estudantes”. Sublinhou que o cinema tem a vantagem de apresentar conceitos e imagens que permitem compreender ideias complexas “de forma mais suave”, aproximando os alunos de si próprios e do mundo e favorecendo uma “razão mais doce, sensível e comovente”. Segundo o orador, a arte cinematográfica contribui para a formação integral, estimulando reflexão crítica e empatia, e pode ser usada como recurso pedagógico e objeto de investigação no ensino superior.
O professor assinalou ainda o crescimento do cinema em Cabo Verde, com produções que abordam diversas problemáticas sociais, reforçando o papel educativo e cultural do setor. Defendeu maior investimento no ecossistema cinematográfico e valorizou iniciativas que promovem o diálogo do cinema com a filosofia, literatura, comunicação e direito. “Cada professor, em particular, cada educador, pode usufruir mais do cinema e aproximar os seus alunos da sociedade, de si mesmo e do mundo”, afirmou, sublinhando que o cinema oferece uma forma de racionalidade “menos dura e seca”.
A conferência contou com a moderação da Prof.ª Artemisa Ferreira e a participação de estudantes, docentes e público interessado, reforçando a importância do diálogo entre arte, educação e sociedade. O Dia Mundial do Cinema assinala-se a 5 de novembro e a designação “Sétima Arte” remonta ao crítico italiano Ricciotto Canudo (1912), lembrando a centralidade do cinema na constelação das artes e no imaginário contemporâneo.