Metapneumovirus_01.jpgUma investigação conduzida em Cabo Verde, entre 2019 e 2022, revelou a circulação do Metapneumovírus Humano (hMPV) como um dos agentes etiológicos das infeções respiratórias agudas (IRA) em crianças com menos de cinco anos de idade. Os resultados, divulgados em 2021, sublinham a relevância de incluir o hMPV em protocolos de diagnóstico e vigilância das IRA, sobretudo em populações mais vulneráveis (Correia et al., 2021).

O estudo, desenvolvido no âmbito do doutoramento de Wilson Correia (ex-estudante da Uni-CV), defendido na Universidade de La Laguna (ULL), em Tenerife – Ilhas Canárias, contou com a orientação das Professoras Emma Carmelo (ULL) e Iniza Araújo (Uni-CV) e foi financiado pela Fundación Canaria para el Control de Enfermedades Tropicales, pelo Cabildo de Tenerife (Proyectos de Cooperación e Investigación) e pelo Instituto Universitário de Enfermedades Tropicales y Salud Pública de Canarias. A iniciativa teve ainda a parceria da Universidade de Cabo Verde, do Ministério da Saúde de Cabo Verde e do Escritório da OMS em Cabo Verde.

Recolha de dados e principais resultados

As 434 amostras nasofaríngeas foram obtidas em crianças atendidas nos serviços de urgência dos hospitais de Santiago e Sal, e recolhidas em diferentes períodos de cada ano: janeiro, maio e novembro. Utilizando a tecnologia de Painel Respiratório FilmArray® v. 2.0 Plus, os investigadores detetaram 28 amostras (6,4%) positivas para hMPV, sendo 9 (9,3%) no ano de 2019 – apenas na cidade da Praia – e 19 (6,2%) em 2022.

Os resultados evidenciam uma maior frequência de deteção nos meses de maio e novembro, indicando que o hMPV pode ocorrer concomitantemente a outros agentes respiratórios, reforçando a complexidade das infeções em idade pediátrica.

Importância do hMPV na saúde pública

Embora o hMPV não tenha sido o patógeno mais frequente no estudo, a sua deteção em Cabo Verde reforça a necessidade de vigilância ativa e de inclusão do vírus em protocolos de diagnóstico. Trata-se de um vírus amplamente distribuído em todo o mundo, sendo que cerca de 90% das crianças são infetadas antes dos cinco anos de idade, e a seroprevalência em adultos é próxima de 100%. Os sintomas da infeção por hMPV são leves e assemelham-se aos de outros vírus respiratórias. podendo evoluir, sem tratamento adequado, para quadros clínicos graves, como bronquiolites e pneumonias, especialmente em crianças, idosos e imunocomprometidos.

“É crucial que as autoridades de saúde redobrem a atenção na monitorização de infeções respiratórias, implementando estratégias eficazes de controlo e prevenção”, alertam os investigadores, recordando que a adoção de boas práticas de higiene respiratória e o diagnóstico precoce são pilares fundamentais para travar a propagação do vírus e evitar possíveis complicações.

Cenário internacional e perspetivas de investigação

Recentemente, tem-se registado um aumento de casos de infeção por hMPV na China, o que suscita preocupações globais acerca da rápida disseminação do vírus. Esse panorama internacional, aliado às evidências obtidas em Cabo Verde, torna ainda mais relevante o investimento contínuo em investigação e vigilância epidemiológica, com vista a proteger as comunidades mais vulneráveis.

Para além de contribuir para o avanço científico no campo das doenças respiratórias, este estudo impulsiona a capacidade dos setores da Educação e da Saúde em Cabo Verde, realçando o valor estratégico das parcerias académicas e institucionais para o desenvolvimento de investigações de alto impacto.

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