Decorreu, entre os dias 30 de setembro e 1 de outubro, na Universidade de Cabo Verde, em formato online e presencial, a 4ª Jornada Científica em Biologia & Saúde (JOBS), organizada pela Coordenação do Mestrado em Saúde Pública, da Faculdade de Ciências e Tecnologia. Sob o lema “Saúde Pública em tempos de Pandemia”, a Jornada contou com intervenções de especialistas de Cabo Verde, Portugal, Moçambique e Brasil. A 4ª JOBS foi realizada graças à parceria com o Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva da Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista (PGSC/FMB/Unesp) e do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa (IHMT/UnL), e com o patrocínio da Fundação Calouste Gulbenkian e da “Parceria entre a Europa e os Países em Desenvolvimento para a Realização de Ensaios Clínicos” (EDCTP - European and Developing Countries Clinical Trials Partnership). No final do evento, a Presidente da Comissão Organizadora da 4ª Jornada Científica em Biologia & Saúde, Iniza Araújo, falou dos resultados desta Jornada, cujo objetivo principal foi de partilhar e discutir a investigação científica realizada em Cabo Verde na área de saúde pública e refletir acerca do papel da saúde pública em tempos de pandemia de Covid-19.
Qual a sua avaliação da 4ª Jornada Científica em Biologia & Saúde?
Foi uma sessão de partilha, de conhecimento e de aprendizado, não só pelas questões técnicas que foram aqui debatidas e apresentadas, mas também porque foi realizada online. Este modelo tem sido a nossa prática e deverá continuar a ser pelos próximos tempos, inclusive na lecionação.
Foram aqui debatidos vários temas muito interessantes, relacionados à Covid-19, nomeadamente os desafios, estratégias e ações globais, regionais e nacionais; o papel dos Serviços de Saúde em tempo de pandemia, a comunicação em ciência e a ética em pesquisa. Discutimos também projetos financiados em concursos internacionais e realizados em parceria com a Europa (países como Portugal, Espanha, Inglaterra, Alemanha, Dinamarca), países africanos de língua portuguesa, Brasil e Estados Unidos, bem como investigações realizadas em processos de formação, como por exemplo os resultados de dissertações do mestrado em Saúde Pública da Uni-CV.
Quando se fala de projetos de investigação com consórcios internacionais, está a referir a que projetos?
Temos vários. Na JOBS, apresentámos um projeto sobre a resistência antimicrobiana realizada em parceria com a Universidade de Leicester, Inglaterra, e financiado pela Agência de Ciências Médicas de Inglaterra; um projeto em parceria com o Instituto TROPOS da Alemanha, que pretende avaliar os efeitos da poeira e os seus microrganismos associados na saúde humana; o projeto “Crescer com saúde em Cabo Verde” em parceria com a Universidade Federal de Pernambuco, Brasil; e um trabalho financiado recentemente pela EDCTP, uma organização europeia que financia projetos principalmente na África. Este estudo está relacionado à proteção conferida pela vacina BCG à Covid-19.
Qual é o papel da Universidade em matéria de Saúde Pública?
A Universidade tem um papel fundamental porque tem como missão gerar conhecimento. Esse é o seu papel primordial, e a geração de conhecimento se dá através da investigação que por sua vez alimenta e é alimentada pela formação, principalmente a formação pós-graduada. A reflexão realizada através da investigação, que é um pilar da Uni-CV, permite-nos facultar ao país documentos científicos sobre as relações entre desenvolvimento, saúde e organização social num contexto insular; a efetividade das políticas na sua aplicação ao sistema de saúde nacional numa perspetiva de saúde global; a identificação e o conhecimento dos fatores associados a doenças; a gestão de recursos para obtenção máxima de efetividade; o conhecimento dos determinantes sociais e ambientais de saúde; a dinamização do diálogo entre a sociedade, decisores políticos e técnicos de saúde e o aprimoramento do sistema de saúde de Cabo Verde. A Universidade constitui o espaço privilegiado para o desenvolvimento de um ambiente de investigação e formação em saúde pública, que refletirá diretamente na melhoria da saúde das comunidades a curto, médio e longo prazo. Acreditamos que com a pandemia da Covid-19, temos a oportunidade de conhecer melhor os desafios que a pandemia nos coloca e de fomentar discussões, reflexões e estudos a fim de conhecermos até que ponto as nossas formações estão conseguindo responder a este desafio. A saúde pública abrange muito mais do que simplesmente a questão da saúde humana e está intimamente relacionada às temáticas das ciências exatas, das ciências sociais e jurídicas e outras.
Já são 4 Jornadas Científicas que a Faculdade de Ciências e Tecnologia organiza. O que foi concretizado nesses anos?
O esforço que fazemos para que as JOBS ocorram é um esforço pela necessidade de dar oportunidades aos profissionais, aos estudantes da Universidade de Cabo Verde, de outras universidades e principalmente aos profissionais de serviços, um espaço de reflexão e atualização nas Ciências Biológicas e da Saúde e de formação contínua. Privilegiamos igualmente a partilha, a apresentação de resultados da investigação realizada a nível nacional, que consideramos ser uma responsabilidade social e ética, bem como um espaço de novas parcerias em formação e investigação. E graças a Deus, isso tem acontecido. A 4ª JOBS, também foi uma oportunidade de divulgar a abertura do curso de Pós-graduação em Saúde Pública, em parceria com o Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva da Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista (PGSC/FMB/Unesp) e do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa (IHMT/UnL).
A realização desta JOBS poderá trazer benefícios futuros para a Universidade de Cabo Verde?
Com certeza. A Uni-CV é um espaço privilegiado de formação, reflexão, geração e divulgação da ciência, que são também os objetivos das JOBS. Com isso estamos contribuindo para que a nossa comunidade académica e toda a sociedade cabo-verdiana e não só se beneficie dos avanços científicos. A 4ª JOBS permitiu dar a conhecer o curso de mestrado em Saúde Pública, promovendo a formação de mestres em Saúde Pública, o que colocará no país um contingente de profissionais mais aptos e habilitados para integrarem equipas pluridisciplinares, contribuírem para mudanças na abordagem e na resolução dos problemas de saúde pública e participarem em ações de formação em saúde.