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A Universidade de Cabo Verde, através do seu Leitorado do Instituto Guimarães Rosa, realizou, no passado dia 16 de junho, no Campus do Palmarejo Grande, a cerimónia de abertura do II Simpósio Internacional de Literatura Infantil e Juvenil de Cabo Verde. O evento, que decorre até 18 de junho, reúne escritores, investigadores, professores, estudantes e especialistas oriundos de Cabo Verde, Brasil, Portugal, Itália e Guiné-Bissau, com o objetivo de refletir sobre os caminhos da leitura, da literatura e da formação de leitores nos países da lusofonia.

Na sessão de abertura, a pró-reitora e responsável pela Cátedra Eugénio Tavares, Maria de Fátima Fernandes, deu as boas-vindas aos participantes, destacando a importância simbólica da data de abertura — o Dia da Criança Africana — como momento de evocação do massacre de Soweto, ocorrido a 16 de junho de 1976, quando centenas de crianças foram assassinadas por se manifestarem contra a imposição do ensino em língua africana nas escolas sul-africanas. A dirigente sublinhou que este simpósio procura, de certo modo, resgatar os direitos das crianças a uma educação de qualidade e inclusiva, baseada em valores de justiça, memória e resiliência.

Alertando para a persistente violação dos direitos das crianças em vários contextos africanos e mundiais, Fátima Fernandes defendeu que a leitura deve ser pensada como um instrumento de inclusão social. Sublinhou que “a pobreza maior chama-se indiferença” e apelou a uma educação que seja sensível às necessidades dos mais vulneráveis, promovendo a leitura como meio de combater a desigualdade e o preconceito. Referiu ainda que “uma coisa é sermos diferentes, outra é fazerem-nos sentir que somos diferentes”, lançando o desafio à comunidade educativa para que forme leitores atentos à diversidade e ao respeito pelo outro.

Karina Gomes, por sua vez, na sua intervenção, reforçou que “a leitura literária é um direito cultural inalienável e um alicerce transversal a todas as áreas do saber”. Defendeu que é urgente reafirmar o valor da literatura como ferramenta de formação crítica, sensível e ética, especialmente quando se trata da infância e da juventude. Realçou ainda que a escolha da data de início do simpósio coloca as crianças e os jovens no centro das políticas de leitura e das práticas pedagógicas, sublinhando que “a leitura diz respeito a todos nós. Não há professor, cientista, cidadão ou cidadã que possa prescindir da escuta atenta às narrativas do mundo”.

O diretor executivo do IILP, João Neves, destacou a relevância do simpósio no reforço da ciência e do conhecimento no espaço da CPLP, anunciando que o evento foi selecionado para financiamento no âmbito do Programa de Apoio à Realização de Congressos e Seminários de Língua Portuguesa, e integra também a participação de uma investigadora apoiada pelo Programa de Apoio a Jovens Investigadores de Língua Portuguesa (PAJILP).

Durante os três dias do simpósio, decorre uma programação diversificada composta por conferências, mesas-redondas, comunicações científicas, oficinas práticas e um espaço especialmente dedicado à literatura contemporânea para crianças e jovens. O encontro visa analisar criticamente a literatura infantojuvenil, com destaque para a produção cabo-verdiana; refletir sobre o papel da literatura no desenvolvimento integral de crianças e jovens; incentivar práticas de mediação de leitura; promover a inclusão e a diversidade cultural nas obras e nas leituras; fortalecer os laços entre a universidade, a escola e a comunidade; e contribuir para a formação contínua de docentes e outros profissionais das áreas da educação, letras e artes.

O simpósio é promovido pela Universidade de Cabo Verde, por intermédio do Leitorado Brasileiro do Instituto Guimarães Rosa e da Cátedra Eugénio Tavares de Língua Portuguesa, com o apoio do Instituto Internacional da Língua Portuguesa e outras entidades parceiras. As oficinas práticas, que exigem inscrição prévia, destinam-se a professores, estudantes e profissionais das áreas da educação e da cultura, visando aprofundar competências no domínio da literatura infantojuvenil e da mediação de leitura.

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